segunda-feira, 17 de março de 2008

Os Nossos Heróis da Pintura

Columbano Bordalo Pinheiro.
Foi para Paris. Passou justamente despercebido. Na altura, na Europa do Courbet e do Millet, existiam milhares de Columbanos. Iam todos a Paris, tipo viagem a Fátima ou a Meca, consoante os credos. Passavam lá um tempinho a ver... se passavam. Chumbou. Teve a sorte de voltar para este quarto escuro e brilhar um pouquinho, pelo menos aqui.
Há gente que adora a sua mediocridade. No Chiado aquilo estava cheio, sempre.
Teve um irmão, Rafael. Esse sim. Dentro da sua linguagem era muito bom e primava pela originalidade.

Amadeo de Souza Cardoso.
Uau! An exciting painter: foi assim que um crítico do qual óbviamente esqueci o nome a ele se referiu aquando da sua exibição no Armory Show. Apareceu por lá e carregará essa medalha pela poeira artística deste país durante décadas.
Fui à exposição dele à Gulbenkian, mas sem filas e multidões. Era dia 23 de Dezembro e o povo andava todo nas compras de Natal. A minha salvação eram os quadros de contemporâneos dele lá presentes, e as esculturas do Brancusi ( quando os via a reacção era: pera ai afinal isto é bom, não conhecia!...gaita...não é dele...). A diferença qualitativa era abissal.
Tem um nome bonito, e o "o" em vez de "u" no "Amadeo" dá direito a pontos extra nesta sociedade primitiva…
Temos o Santa-Rita, que como todos os génios achava que não fazia nada de especial e queimou o que achava vulgar. Azar o nosso. Não era, de todo, vulgar. Foi trágico.
Não fiquem tristes, ficou a obra do Almada. Um Ser Superior.
No museu de Algés, corria, ou corre um vídeo onde o Manuel de Brito, já falecido, exibe as peças da sua colecção descrevendo-as com tímido carinho.
Lembro-me duma que não está exposta. É um auto-retrato. Olhamos para a tela, traçada a preto e branco, e vemos um grupo de linhas, direitas e curvas, aparentemente desconexas. Linguagem Cubista. Contudo, apesar da realidade fotográfica ausente, não acredito que qualquer fotografia pudesse definir tão bem o carácter e mesmo a figura de alguém como aquele molho ilusoriamente desarticulado de traços e manchas.
É mesmo o Almada! Gritamos em silêncio…

Sejamos exigentes. Controlo de qualidade é fundamental...

8 comentários:

Afrika disse...

Mas k raio de Critico!
Lembra-me de se um dia cruzarmos num museu ou galeria, fugir de ti a sete pes! Fico agora pra aqui a pensar que toda aquela arte espalhada pelos museus nacionais não são melhor do que os rabiscos pintados por miúdos do infantário!
Ora bolas... que mau que tu és!

LOL

Rocket disse...

afrika

Não disse só mal. Apenas, usando uma expressão típica duma sociedade recém-camponesa como a nossa...separo o trigo do joio...

E não acredito que fugisses de mim em circunstância alguma eh eh

bjinhos

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá amigo, adorei o teu texto com belo sarcásmo... Mas, olha disses-te grandes verdades, OK.
Beijinhos de carinho.
Fernandinha

Rocket disse...

olá amiga fernanda

Isto das verdades...bem...estas são as minhas.
É que durante gerações veneram-se artistas porque temos poucos, ou achava-se que sim.
Ainda no Sábado fui ver uma exposição à culturgest. Havia dois um português e uma americana.
O português ganhou-lhe a 10 a 0...

Chama-se Ricardo Jacinto. Felizmente temos outros de grande nível também...
refresh, refresh, já não precisamos dos empoeirados...

bjinhos e volta sempre

Carla disse...

tens aquilo que quase sempre falta neste país - espírito crítico e uma capacidade de observação excepcional
por isso é que gosto de passar por aqui
beijinhos

Rocket disse...

carla

Obrigado por passares por qqui, pelo feedback e pela sintonia... e o elogio, enfim, deixa-me sem jeito mas reforça a minha vontade de partilhar as minhas impressões. Incomoda-me que existam coisas que são veneradas por motivos de que ninguém se lembra...

beijinho

Leonor disse...

E eu a preparar um post sobre Frida Khalo ... cof cof ... enfim, vou até ali reduzir-me à minha insignificancia e já volto, sim? Tens uma visão diferente das coisas, a capacidade de olhar para a arte com olhos de profissional ... o comum dos mortais sente-a ou não :)contrariamente à Afrika, acho que visitar um museu com quem sabe, vale sempre a pena, precisamente porque nos é dada a oportunidade de olhar para as coisas de outra forma e com outra informação ... Beijos ... lá terei de ir ao museu de Algés :)

Rocket disse...

mlee

A propósito deste post ainda ontem tive uma conversa em que veio a lume a Frida...

Vai ao Palácio Anjos, além de agradável, o Manuel de Brito legou muita coisa que vale a pena. E não percas o vídeo...


bjinhos