quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fraude, fraude, fraude...


Está frio. Como em Janeiro.
Isto não é África. Porque essa é quente. Quente e pobre, ainda. Esta é uma África de mentira, rica, de arranha-céus. Rica e fria.
E eu? Também de mentira, mas serei frio... e pobre...
Como vim aqui parar? Como? Um dia irão descobrir... Mas, por vezes, até eu acredito. Como quando nos banhos de arraia aos choros e risos. Como quando as multidões me olham como se eu fosse realmente importante. Como quando quando me disputam autógrafos, aos encontrões. Como quando quando me dizem que sou importante (ao ouvi-los, evito os olhares de piedosa autosugestão, pois temo que os seus olhos suspeitem).
Como quando devo ser realmente importante: porque me pagam de todas as maneiras para isso...
Mas já não consigo. Não sou eu que o digo, mas... aqueles olhares de soslaio... os murmúrios... E agora o brasileiro! Bem, pelo menos agora já sei. Se ele o diz é porque quase todos o pensam. Quase todos... porque, para pensar...
Mas eles já sabem. Estes pelo menos.
Na verdade, nunca o consegui, mas eles querem tanto acreditar...
Pelo menos agora já sei. Que não gostam, mesmo, mesmo, de mim. Eu bem tento, mas é uma coisa minha... Eu bem tento... Vocês viram? Eu, a defendê-los? Quando, firme, reclamei o direito dos meus (queria tanto que fossem...meus... porque têm eles que crescer?) entrarem em campo com as fitinhas do Senhor do Bonfim, com os cordelinhos no pulso?
Assim talvez eles gostassem de mim... E não se zangassem em segredos e murmúrios. Nenhum me apoiou quando acusei a FIFA de ter favorecido o Drogba, com a fitinha dele... até andam abraçados. São todos da mesma laia...
Como os convenço? Como os convenço que sou eu que tenho razão? Tenho de os lesionar a todos?
Com os miúdos era mais fácil. Eram umas esponjas. E eu, um deus!... Fui tão feliz... Porque têm eles que crescer?
Li algo que me tirou o sono durante duas noites. Estava assim escrito: Uma orquestra de executantes medíocres, com um bom maestro, produz uma sinfonia decente, mas uma orquestra de virtuosos, com um mau maestro, é incapaz.
Houve outra, que comparava os jogadores da Selecção a armas bem calibradas e certeiras e, a mim... um atirador com péssima pontaria...
Querem ganhar, ser campeões e esses disparates todos. Não sabem que o que é realmente importante é... eu ter razão? Ainda acreditei que seria possível convencê-los. No Real e nos outros... isso era passado... e aqui tinha outra oportunidade, mas...
Eu bem tento... Como vim aqui parar?
Quiseram-me aqui. Que bom. Se calhar sabiam que eu tinha razão. E agora? Já não a tenho porquê? É a mesma...