segunda-feira, 31 de março de 2008

A conspiração

Existe uma conspiração. E é contra mim!
Eu explico: de cada vez que me situo numa fila qualquer, quer para comprar um bilhete de cinema, quer para uma exposição, num supermercado... sei lá...em qualquer fila, as conversas que ouço em volta, sobretudo nas minhas costas, possuem o teor mais imbecil que eu poderia imaginar...só ouço disparates, enormidades, uma exibição verbalizada de inactividade cerebral...
Estou ali, quietinho e caladinho que nem um rato, fingindo que não ouço, mas as minhas orelhitas de spock apercebem-se disso...
Nas minhas costas, todo um mundo de gente estúpida faz a sua vidinha e não partilha a sua parvoíce comigo! Milhões, ziliões talvez!
Uma conspiração... porquê? Porque, interagindo eu com todo o tipo de gente durante todo o dia, nessa interacção o tal nível de imbecilidade não se nota.
Será que, por eu me encontrar presente, as pessoas fazem um esforço extra para não dizerem os disparates que ouço quando me mimetizo na multidão? Que terei eu? Meto medo?
Tirando a minha quase ex-assistente, que é a rainha das tias e que com orgulho e pompa ostenta a sua ignorância ao perguntar-me o que significa a palavra "ocasional" quando lê os e-mails das amigas com os lábios a mexer, ninguém tem conversas do calibre das que ouço por aí... As mesmas pessoas que protagonizam as conversas mais estúpidas, se por acidente comunicam comigo articulam imediatamente o seu discurso...é espantoso!
Também quero! É uma conspiração!
Churchil afirmava que quem quisesse arranjar argumentos de peso contra o conceito da democracia teria apenas que passar cinco minutos a falar com um eleitor qualquer...
Bem, comigo não funcionava. As pessoas começam logo a comportar-se como candidatas ao Nobel...
De que forma posso potenciar isto? Pedindo um subsídio ao Estado aludindo à minha importância cultural pelo facto de estimular um comportamento cuidado? Aceitam-se ideias!

Se

Como cavalheiro, jamais recusaria um pedido duma senhora, neste caso a carla, uma das bloggers que me proporciona melhores momentos de leitura à frente de um ecrã... Aí está:

Se eu fosse um mês seria… Julho, quando tudo arde...
Se eu fosse um dia da semana seria… outro qualquer
Se eu fosse um número seria… 7
Se eu fosse uma flor seria… flor o caraças! Bem...ok, uma edelweiss...pronto.
Se eu fosse uma direcção seria… em frente
Se eu fosse um móvel seria… soalho de madeira
Se eu fosse um líquido seria… sangue
Se eu fosse um pecado seria… excesso de tudo
Se eu fosse uma pedra seria… diamante, porque ofusco, talhado por todos os golpes
Se eu fosse um metal seria… titânio: forte, macio e flexível (o aço é gráficamente mais apelativo em 2D)
Se eu fosse uma árvore seria… carnívora
Se eu fosse uma fruta seria…abacate
Se eu fosse um clima seria… quente e húmido
Se eu fosse um instrumento musical seria… uma Uzi
Se eu fosse um elemento seria… plasma
Se eu fosse uma cor seria… preto
Se eu fosse um animal seria…orca
Se eu fosse um som seria… uma detonação
Se eu fosse uma canção seria… Kalimankou Denkou
Se eu fosse um perfume seria… Egoïste
Se eu fosse um sentimento seria… Amor
Se eu fosse uma comida seria… Eu
Se eu fosse uma palavra seria... implacável
Se eu fosse um verbo seria… viver
Se eu fosse um objecto seria… lâmina
Se eu fosse uma peça de roupa seria… blusão de couro
Se eu fosse uma parte do corpo seria… coração
Se eu fosse uma expressão seria... "Gosto de trabalhar mas detesto ter trabalho"
Se eu fosse um desenho animado seria…Superman
Se eu fosse um filme seria… Irreversível
Se eu fosse uma forma seria... transmutante
Se eu fosse uma estação seria…um apeadeiro vazio ao sol
Se eu fosse uma frase seria… "não..."

sábado, 29 de março de 2008

Sem Amor

Estou viciada em ti.
Quando entro numa sala, eu, que nunca me preocupo com essas coisas, julgo que todos me observam porque possuo um intenso e poderoso cheiro a sexo. Um cheiro a ti.
Sinto-te a escorrer dentro de mim, da noite passada. E da outra. De todas. Tresando a sexo, ao teu. É impressionante! Estou viciada em ti...

De olhos fechados, o eco de suas palavras continuava a hipnotizá-lo. Eram coisas que ela ia dizendo por telefone, durante o dia.
À noite, mesmo na sua presença, dentro do carro no parque de estacionamento ali em frente ao café que os separava do Tejo, elas continuavam a amansá-lo, mesmo proferidas noutros dias.
Olhou-a. Era a mulher mais bela que já tinha conhecido. Não acreditava no que via nas primeiras vezes que saíam, nem ele nem outros. Parecia feita noutro quadrante, noutra dimensão.
Via, por trás da sua cara de uma inexpressividade olímpica, coberta por uma juba cor de sangue negro, ao longe, as escuras pessoas de alva cara que iam entrando no bbc, branco.
Eles não iriam lá, naquela noite. Nem a lado nenhum.
Pararam ali para conversar. Entrar e conversar. Ele à frente dum jack daniels e ela a segurar, como de costume, um manhattan.
Mas não saíram do carro.
Olhou-a.
Mais que as suas injustificadas ausências, os seus segredos e os seus mistérios, mais que os jantares com... amigos, os fins- de-semana em quintas de amigas desconhecidas, o desligar do telefone a horas em que o mesmo devia estar para ele, para o mundo... mais que toda a vida que ela anunciava e que ele não comprovava, mais que todo o terror que ele passava com tudo isto, mais que toda a angústia...
...Mais que tudo isso, eram aqueles olhos. Os dela.
Muito, muito negros. Vazios. Mortos. A morte num par de olhos. Só encontrara algo assim em imagens animadas dum tubarão branco, em águas límpidas de ecrâ.
Eram um aviso sério, aqueles olhos. Estava tudo lá. Todo o inferno pelo qual passava...
O pior dos infernos. Aquele que vem, como numa de salada de frutas, com grossos pedaços de céu, para melhor sentir o horror, num contraste de sabores.

Não percebo porque estás triste. Estou sempre, sempre para ti. Só para ti. Dedico-me a ti, quando posso, mal posso.
Quando durmo com alguém... é contigo que o faço.
Vivo para ti.

Mas não. Não era vida. Aquilo que eles faziam não era vida. Não se pode viver no gerúndio.
Ir vivendo...só na tela.
Mesmo com a paixão. Com a genuína paixão dela, com a obssessão dela pelo sexo deles... pelo sexo dele, o qual ela não largava, nem com as suas mãos, nem com os seus olhos... nem com a sua boca, inúmeras vezes no meio do trânsito enquanto olhares nos vidros dos autocarros observavam atónitos enquanto ela mergulhava no seu colo em pleno dia, em pleno verão de incêndios. Nem com o seu cérebro. Encontrava-se mesmo fascinada por si e pelo demónio da sua carne.
E a forma como ela dormia, em que, com toda a sua pesada massa muscular se deitava completamente, sem tocar em mais nada, só nele e na sua pele... como se o corpo daquele homem fosse uma nuvem... que a elevasse acima de todo o resto.
Não era vida.
Não era... Uma Vida.

És o único em quase tudo, no meu íntimo. Nunca ninguém alguma vez me possuíu sem protecção. És, e foste, o único a fazer tal coisa. És o único! Que mais queres?... Que queres, afinal?

Uma Vida. Respondeu ele. Quero Uma Vida.

Ela olhou para o tablier escuro e disse: a vida não é amor e uma cabana. Se a vida fosse amor e uma cabana, nunca saíria dos teus braços, até morrer...

Ele abriu muito os olhos e franziu a testa. Odiava chavões, e não os recebia de bom grado, sobretudo dela.
Bang bang, my baby shot me down...
Olhou para o pedaço de rio, à sua esquerda, que a esquina do edifício do café descobria. Via a ponte, tracejada pelos carros que passavam, como balas de fósforo em câmera lenta por entre as grinaldas de lâmpadas dos pilares.
Cá em baixo tudo isto se reflectia, mas a dançar na água escura em pequenas centelhas no negrume da noite, através dos reflexos, no pára-brisas, dos faróis de carros que iam parqueando...


Dois anos depois. Ele resolveu o assunto.
Ela era um problema. Maior que os outros, mas ainda assim não fugia ao estatuto de problema. E ele era um homem de soluções.
Arrancou-a de si mesmo como se arranca um braço.
Mergulhou o mais possível numa nuvem de tudo o que era anestésico, analgésico... e arrancou-a de si.
Sangrou abundantemente, deixou-se sangrar...
Pegaram nele e cauterizaram a ferida. Ele observava, enquanto tudo o resto que ele ainda conseguia suster se ia desmoronando...
Recomeçou do zero com aquele coto dentro de si. Iria sarar...

...Três anos depois.
Afinal a vida sempre podia ser amor e uma cabana. Amor, que o tinha encontrado. Um amor intenso e suave, como o melhor Blue Mountain. Como ele.

Ela não. Tinha retirado o seu coração do nitrogénio líquido da criogenia, e entregou-o aquele homem que o aqueceu até ele bater em toda a pujança e explendor de músculo mais forte do corpo... para o abandonar depois, aparentemente esquecido em qualquer lado...
Aprendeu, pensou ela. Era, até aí, das poucas mulheres que podiam ter a satisfação de ditar todas as regras. Baixara a sua preciosa guarda, para ele entrar na sua vida, e deu no que deu...
...Nunca mais!

sexta-feira, 28 de março de 2008

Sem Cor

Era pintor.
Conduzia calmo o seu velho ford, mentalmente mergulhado na cor das suas telas. A sua rua aproximava-se. Era já no próximo cruzamento...
Bruscamente sentiu explodir uma massa gigantesca na traseira que o esmagou contra a mancha branca do airbag que detonava...

Acordou da coma, quarenta e três dias depois dum cherokee ter abalroado por trás o seu carro a oitenta e sete quilómetros por hora. Os médicos tinham já levado a cabo um levantamento minucioso das regiões do cérebro afectadas pelo acidente. O Córtex visual, na nuca, tinha sido o mais danificado pelo embate traseiro. Esperavam agora, curiosos, a reacção do paciente ao abrir os olhos.
E ela veio.
Primeiro o vislumbrar, o sentir de uma névoa e depois… um focar muito lento e esforçado dos contornos, das manchas, do vagaroso materializar do desenho das caras que o observavam.
Havia algo, contudo, que o fazia sentir-se num sonho, ao não acreditar naquilo que os olhos lhe diziam: o cintilar das hastes metálicas do médico mais próximo de si revelavam um brilho…diferente. Algo esbranquiçado. Leitoso.
O choque, esse, aconteceu ao dar com a face de Olívia, a sua mulher.
Sentiu estremecer todo o seu débil corpo: a pele feminina que o acompanhara durante doze anos, outrora rosada, agora encontrava-se cinzenta, sem vida. Olhou em volta num pânico muscular.
Tudo se encontrava cínzio, como num luto a preto-e-branco.

Tinha acordado num mundo sem cor.

A percepção das cores, essa, tinha-a perdido para sempre.

À chegada a casa, o cão veio lamber-lhe a cara, pousando as patas no seu colo ainda encostado à cadeira de rodas. Sentia as unhas do animal cravarem-se-lhe a través do tecido das calças, e desagradava-lhe o seu cheiro, agora mais forte.
Olívia empurrou a cadeira de rodas pelo soalho. O olhar dele passou pela taça de fruta, sempre cheia. As uvas pareciam vidro e as maçãs papel… ao observá-las não se lembrou do seu sabor. Pensou nisso, desconcertado.
O cão saltava em volta da cadeira de rodas, empurrando os bancos da cozinha num chiar rombo.
Cheiros e ruídos começaram a ter um novo estatuto na hierarquia dos seus sentidos, após a morte das cores no seu mundo.
Olhou para o focinho do cão. Os seus olhos eram também de vidro, como as uvas. Via agora também o mundo como aquele animal…
Após alguns dias, o acto de olhar para as suas mãos cinzentas já não molhava a sua face de lágrimas.
Essas aconteceram num soluço violento, num inesgotável uivo de desepero quando Olívia se desnudou a primeira vez. Em pé, banhada pela luz cinza do candeeiro. Observou-a dolorosamente. A pele perdera toda a textura, parecia o gesso coberto de tinta dum manequim antigo.
Olívia, estremecida, apertou-o contra o peito durante horas enquanto ele soluçava, violenta e silenciosamente, aos sacões…

Apesar de ter abandonado a cadeira de rodas e percorrer a casa pelo seu pé, havia duas semanas, ainda não tinha entrado no atelier. Uma porta branca mantinha fechado e inerte o mundo que ele criara com cores de que se tinha fácilmente esquecido…

Cada vez que comia fechava os olhos. Os alimentos possuíam um aspecto repugnante.
Vomitou a primeira vez que viu esparguete.

Um dia, empurrado pelo psicólogo, entrou finalmente no atelier.
De olhos semicerrados, a primeira impressão foi duma violenta agressão ao seu olfacto, a do cheiro das tintas.
Olhou as telas. O nó na garganta sabia a acrílico.

Recomeçou a pintar, semanas depois. Reconhecia as cores pelo cheiro dos químicos e recomeçou a utilizá-las. Dizia em voz alta os seus nomes, de olhos fechados e narinas abertas...

Um dia, num passeio pelo campo olhou o horizonte.
Uma mancha de luz, mais clara, nele mergulhava. Era um arco-íris. Tentou imaginar o seu aroma...
Fotos»Guido Mocafico/Emmanuel Turiot//Wallpaper

quinta-feira, 27 de março de 2008

Let the days go by...

Sou peculiar. Venero a obra de Mozart: leva-me ao paraíso em terra, considero-a algo sublime. Contudo se calhasse contemporâneo da sua criação, provavelmente atravessaria a rua para não ter que cumprimentar um imbecil chamado Wolfgang Amadeus...
Uma das músicas que não me cansarei de ouvir até morrer será o Once In The life Time dos Talking Heads. Apesar de não ir à bola com a figura do David Byrne, nunca fui...
...enfim, sou assim.
Tom Vek. Conseguiu inspirar-se nessa obra-prima e criar Nothing But Green Lights. Neste século. Fiquei feliz.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Cassiano Branco

Costa da Caparica. 2008. Algumas das melhores praias
da Europa cercadas por um bairo de lata gigante em que
o concreto substitui latão e zinco... por camadas.

Mas podia não ser assim.
Se em vez de patos-bravos, facilistas, xicos-espertos e autarcas corruptos, a tarefa de urbanizar e arquitectar a Costa tivesse sido entregue ao senhor de que trata este livro: Cassiano Branco.
Não é sempre que um designer formata conteúdos que o apaixonam, e não é sempre que a entidade que os fornece possui um nível de excelência como o autor, o arquitecto Paulo Tormenta Pinto. Quando isso acontece o resultado só pode ser um: qualidade. E é num mar de qualidade e excelência que decorre a existência criativa de Cassiano.

Wim Wenders, em Until The End Of The World recorreu à escadaria do cinema Éden para evocar o futuro...

segunda-feira, 24 de março de 2008

Gajas! Gajas!...Porquê?

Uma das situações mais perigosas por que passei ocorreu durante o meu serviço militar num dia em que comandava um pequeno destacamento para deter (prender) um indivíduo que andava descontrolado a destruir cafés e agredir gente numa povoação famosa entre antropólogos de todo o mundo pela natureza sui generis da seu tecido humano. Era uma comunidade que cultivava o hermetismo, não se miscigenando, de todo, com as povoações vizinhas, sendo o seu índice de consaguinidade o mais alto do mundo. Também o eram os índices de doenças derivadas do factor, sobretudo mentais, tornando-a numa das mais perigosas comunidades conhecidas.
Um dos homens da minha unidade era daí oriundo e todos os dias trazia notícias arrepiantes.
Quando para lá nos dirigíamos, eu, como sempre, já me considerava falecido, como em qualquer outra situação de perigo extremo. Mas os homens... esses, ostentavam puro terror no olhar...

Qualquer criador de cães de raça pura sabe que, quanto ela mais o é, maior a fragilidade dos animais.
Hitler encontrava-se completamente enganado. A mestiçagem é o maior factor de sucesso na luta contra a doença porque engloba as defesas de várias raças num único indivíduo.
Existem correntes antropológicas, que, ao basearem-se no estudo das cada vez mais raras sociedades primitivas defendem que a guerra apareceu no universo humano com uma utilidade precisa: raptar mulheres de outras comunidades e assim refrescar o DNA dos atacantes, evitando a consaguinidade.
Os guerreiros seguiam totens, que eram imagens de animais em cujas qualidades dinâmicas se inspiravam para alimentar o seu instinto belicoso... Águias, Leões, Dragões…
Tal como no mundo do futebol e das claques…
No fim de contas, teremos evoluído assim tanto? Julgo que não.
Nas guerras primitivas o conceito de morte em batalha era tão raro como num confronto de claques, existindo na mesma proporção, e a idade dos guerreiros era a mesma da dos Juve Leo, dos NN, ou dos Superdragões.

Os Vikings, mais que as riquezas que saqueavam nos países do sul eram atraídos por algo para si mais aliciante: mulheres de pele morena.

Não nos admiremos pois que eles, ao contrário dos gritos de... por Thor e por Odin!... ao desembarcarem dos drakkar, gritassem a plenos pulmões brandindo os seus machados o equivalente a …

...Gajas! Gajas!

sexta-feira, 21 de março de 2008

farto de balas douradas...

...algo firme e inequívoco me diz que será esta doravante a minha cor, em pétalas, e em pele.
Sim, estou a falar de mim...

quinta-feira, 20 de março de 2008

o crime que compensa o crime

Li no jornal que um homicida recentemente detido afirmou perante a polícia que na cadeia é que estava bem porque a vida cá fora é impossível.

terça-feira, 18 de março de 2008

Um novo conceito

O que faz uma stripper durante o dia?
Nada de relevante. Acorda muito tarde, porque muito tarde se deita. Acabam de trabalhar às 5 da manhã, exaustas, a cheirar mal e a sentirem-se em conformidade...
Metem-se ou não no duche, deitam-se, e acordam a meio do dia.
Com a luz solar, umas namoram com os seguranças, com os Djs ou com quem conhecem ocasionalmente numa vida profissional que de fácil nada tem. Além de sofrerem do síndrome do jogador de futebol, ou seja, apenas profissionalmente úteis quando a carne ainda está fresca, também por elas puxam durante esse tempo. A pressão é constante.
Curiosamente os factores morais que imperam na sua actividade são os mesmos que qualquer profissional do sexo feminino. Umas vendem-se, outras não. O ratio é o mesmo que em qualquer escritório. Por isso sorrio quando ouço chamarem-lhes putas de uma forma generalista...
Antes da crise, conheci várias. Vinham para aí passar as férias de verão que lhe iam pagar o lazer do resto do ano nos seus países de economia fraca, enquanto frequentavam a universidade. Na altura não se podia entrar numa casa de strip, invariávelmente a abarrotar. Eu ficava sempre no balcão a fumar um charuto com os meus amigos. Nunca fui fácilmente impressionável com a beleza física, sempre era acima dos olhos que me atingiam, não nos mesmos. A maior parte das vezes só prestava atenção às raparigas, quando vestidas, e por vezes as coisas sempre começavam com uma conversa interessante. E só com as que se atreviam a passar uma cortina de fumo de Partagas enquando pegavam no seu copo.
Como é sabido, o nível educacional e cultural dum país do Leste é superior. As pessoas lêm os clássicos russos, vão à ópera, ao teatro e filosofam. Tive várias amigas assim.
Agora, as que exercem são todas profissionais, e não sou, nem nunca fui, cliente de lap dance, por isso já não levo com o vazio e o ar condicionado excessivo duma casa de strip há algum tempo. Bastante. E as conversas populares do irmão preso e da mãe doente não me dizem nada...
Para manterem a forma, algumas frequentam ginásios, antes de irem com as amigas fazer o giro das zaras. Passam despercebidas, sem os seus saltos de 20 cm e a lingerie. E o pêlo não cheira própriamente a Victoria's Secret.

Podia tudo ser diferente. Podiam gastar as suas calorias, por exemplo, como na foto.

Assim pelo menos, quando de manhã, no duche, a minha casa estremecesse com as obras de baixo eu ia sorrindo a imaginá-las cobertas de pó...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Os Nossos Heróis da Pintura

Columbano Bordalo Pinheiro.
Foi para Paris. Passou justamente despercebido. Na altura, na Europa do Courbet e do Millet, existiam milhares de Columbanos. Iam todos a Paris, tipo viagem a Fátima ou a Meca, consoante os credos. Passavam lá um tempinho a ver... se passavam. Chumbou. Teve a sorte de voltar para este quarto escuro e brilhar um pouquinho, pelo menos aqui.
Há gente que adora a sua mediocridade. No Chiado aquilo estava cheio, sempre.
Teve um irmão, Rafael. Esse sim. Dentro da sua linguagem era muito bom e primava pela originalidade.

Amadeo de Souza Cardoso.
Uau! An exciting painter: foi assim que um crítico do qual óbviamente esqueci o nome a ele se referiu aquando da sua exibição no Armory Show. Apareceu por lá e carregará essa medalha pela poeira artística deste país durante décadas.
Fui à exposição dele à Gulbenkian, mas sem filas e multidões. Era dia 23 de Dezembro e o povo andava todo nas compras de Natal. A minha salvação eram os quadros de contemporâneos dele lá presentes, e as esculturas do Brancusi ( quando os via a reacção era: pera ai afinal isto é bom, não conhecia!...gaita...não é dele...). A diferença qualitativa era abissal.
Tem um nome bonito, e o "o" em vez de "u" no "Amadeo" dá direito a pontos extra nesta sociedade primitiva…
Temos o Santa-Rita, que como todos os génios achava que não fazia nada de especial e queimou o que achava vulgar. Azar o nosso. Não era, de todo, vulgar. Foi trágico.
Não fiquem tristes, ficou a obra do Almada. Um Ser Superior.
No museu de Algés, corria, ou corre um vídeo onde o Manuel de Brito, já falecido, exibe as peças da sua colecção descrevendo-as com tímido carinho.
Lembro-me duma que não está exposta. É um auto-retrato. Olhamos para a tela, traçada a preto e branco, e vemos um grupo de linhas, direitas e curvas, aparentemente desconexas. Linguagem Cubista. Contudo, apesar da realidade fotográfica ausente, não acredito que qualquer fotografia pudesse definir tão bem o carácter e mesmo a figura de alguém como aquele molho ilusoriamente desarticulado de traços e manchas.
É mesmo o Almada! Gritamos em silêncio…

Sejamos exigentes. Controlo de qualidade é fundamental...

domingo, 16 de março de 2008

Páscoa?...afinal sempre há!










Era a brincar. Só podia, porque eu na verdade sou...Click!> assim...

sábado, 15 de março de 2008

sexta-feira, 14 de março de 2008

Fssst!

Quero exibir a minha humildade. Desnudar-me como ser sensível. Mostrar os meus limites. Aparecer perante vós como Egas Moniz perante o rei, com uma corda à volta do pescoço...
Talvez porque quem me leia julgue arrogante-me, ao fim de uns quantos textitos enviados para o éter.
Aliás, nem seria necessário ir tão longe… Basta a minha apresentação, baseada numa realidade coberta por uma cortina que olhares mais atentos conseguem gentilmente afastar. Contudo, é pequeno um texto que assumo, e sublinho.
Considera-me. E simultâneamente desconsidera a minha sorte, a qual obra minha, como todas as sortes.
Os maiores generais do exército romano eram cotados segundo esse factor, que para um homem do séc. XXI é um pedaço de superstição… a tal da sorte. Normalmente a ela me refiro como sendo algo que dá muito trabalho…

Ok. Aqui vai o meu pescoço. Façam o que quiserem com ele:

Não consigo valorizar favorávelmente Manuel de Oliveira.
Já o tentei, aliás, de forma recorrente.

Convém aqui clarificar algo importante. Existem no meu universo dois tipos possíveis de juízos a efectuar na presença de algo: juízos de valor e juízos de gosto.
O meu gosto, esse raramente é chamado para situações que envolvam terceiros, como é o caso. Trata-se de coisa privada.
Resta a minha capacidade para ajuízar o valor de algo.
E o meu juízo de valor sobre o trabalho de Manuel de Oliveira é o mais negativo que se possa conceber.
Levei durante um quinto da minha existência com uma carga brutal de História de Arte. Na minha vida académica fui obrigado a transformar-me num bom juíz de valores, porque afinal iria necessitar disso para me distanciar e medir a qualidade do meu próprio trabalho e dos que iria orientar em seguida.
Embora sendo capaz de avaliar a qualidade de qualquer manifestação artística, por altura da sua imediata emergência e atribuir-lhe mesmo, valores na escala de um a dez, zero a vinte, ou zero a cem... chego ao Manuel de Oliveira e atribuo um Zero, bem redondo.
Mas devo estar, ou ser maluco.
Doido varrido. Ou então, quiçá, estarei a brincar...
Afinal ele é conceituado... Bastante...
Cotado... Muitíssimo cotado... Michel Piccolli, Catherine Deneuve, Luís Miguel Cintra... tudo se encontra à sua disposição... Inclusive o Palco de Cannes, para onde o senhor sobe sem ajuda e lhe é concedido o tempo necessário para ele proferir a banalidade que quiser ( viram o Benvindo Mister Chance, com o Peter Sellers?). Aliás, nem acredito que ele peça subsídio algum. Aparecem-lhe naturalmente, alguns euros dos que me são retirados todos os meses, na sua conta bancária para fazer o que bem entender na tela...
Não. Não estou a brincar. Escrevo isto muito a sério e de forma grave, e até mesmo triste. E não é comigo que estou triste. É com tudo... A obra de Manuel de Oliveira é mesmo má. Ou seja... o rei vai nu.

Agora tenho que o provar. Não se afirma nada deste calibre... sem provas.
Não é preciso ir muito longe, nem sequer ver algum dos seus filmes, para isso.
Eu cá sou como o Michelangelo, que afirmava que "Deus está nos detalhes". Divindade à parte, é mesmo pelos detalhes.
A ver:

O trailer do último filme.
Um casal detém o carro numa aldeia para pedir informações. Acerca-se da viatura uma suposta aldeã. Ao falar, a personagem dilui-se como água na percepção ruidosa que temos de que... aquela criatura decerto nunca se encontrou em aldeia alguma...

Non, ou a vã glória de mandar.
Pensava eu que era daquela, com aquele filme, que iria mudar o meu parecer. Sou um apaixonado por História e principalmente pela do conflito.
Mas...credo. Cada calinada! E tudo sem sair da batalha de Alcácer-Quibir...
Ele é os soldadinhos com a roupinha acabada de passar a ferro com os vincos bem visíveis, branco mais branco não há...
Ele é as cargas de cavalaria, random, ora para um lado, ora para outro...não houve deserto que escapasse...
Ele é as bolas de ténis pintadas a imitarem balas de canhão que ressaltam e tocam num dos figurantes que caiu com um boneco...pum estás morto...
Enfim. Tudo muito mal feito. E não se desculpem com o Godard, tudo nele era intencional... Aqui não, é apenas falta de...

Aniki Bobó, afinal ele fez o Aniki Bobó.
Ok. É um filme que teve a sua graça. Pena é ele não ter continuado a evolução da dita, nos seguintes...

A Caixa. Valeu-lhe o argumento e principalmente o Luís Miguel Cintra...

Aprecio todo o tipo de cinema. Procuro especialmente o cinema de vanguarda ( não existe essa definição, mas entenda-se que para mim é o que tenta acrescentar algo...) e apercebo-me imediatamente da qualidade de cada um.
Por exemplo, chineses, e principalmente coreanos estão neste momento a criar cinema fabuloso, de cortar a respiração!

Dentro duma linguagem aproximada à do senhor que aqui abordo, temos o Andrei Tarkowsky.
É impressionante a comparação: um deus ao lado dum morto...

O artistas cuja qualidade considero, trato-os pelo primeiro nome. Foi assim que me referi ontem a Rui Macedo, João Pedro Mateus e a Susana Pires.
No Porto temos um artista fabuloso que não se coíbe de mostrar a sua excelência cerebral: O Pedro Abrunhosa.
Temos uma Joana Vasconcelos, que ainda vai dar muito que falar, certamente.
No cinema, uma Teresa Vilaverde, para a qual não me importo que vá o dinheiro dos impostos que pago. Trata-o bem, criando coisas de real qualidade.
E há outros... mas o establishment...

Na verdade, o que ele, Manuel de Oliveira sempre quis, sei eu: a gloriosa simplicidade, com toda a sua subjacente sofisticação. Mas como todo aquele que a procura e não é Capaz, a única coisa que encontra...

...é a pobreza...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Três alentejanos

Não. Não é anedota... São três jovens artistas que expõem no Palácio Galveias até...hum, depois vemos isso...
O que é certo é que fui lá.

O Rui surpreendeu-me. Nunca vi nada daquilo. O que ele faz, com mestria, é reproduzir as suas próprias telas, presentes na exposição, noutras de grande formato, onde em espaços construídos, trendy, elas aparecem suspensas nos mesmos, por vezes até com o requinte de um crop...
Não conheço as influências do artista, e desconfio de que ele alguma vez tenha tido conhecimento do que vou descrever, porque só quem se dá ao trabalho de visitar um pobre museu como o Royal de Bruxelas, pode encontrar os maiores exercícios de estilo dos artistas seiscentistas, ao representarem as galerias e galeristas da época em telas de trinta centímeros de lado, onde se exibe não só o galerista e a sua prosperidade (o verdadeiro mote) mas toda a colecção da galeria. Com a minúcia de um quarto-de-selo se filigranam em trinta centímetros quadrados, meia centena ou mais de telas de contemporâneos de Rembrandt Van Rijn...

O João Pedro apresenta um vídeo interessante: recriações em computador de modelos simples de veículos em colisão, numa atitude quase de análise do desastre em si, propícia a analogias com o crash dos relacionamentos. Não tenho culpa desta leitura, é que a simplicidade da obra é tão eficaz a gerar raciocínio, como o fermento num bolo.
O vídeo é acompanhado por croquis de acidentes reais.

A Susana apresenta-nos duas facetas: a de exímia e original desenhadora e a de criadora de esculturas suspensas. E aqui é que me deram saudades e não descansei enquanto não fui à net rever a obra do senhor com que vos deixo: Ernesto Neto.

Os alentejanos estão ali, no sábado, a três minutos da bica na Versailles, pós-almoço e antes da demanda dos spots ensolarados...

Senhoras e senhores, meninos e meninas... Ernesto Neto.

segunda-feira, 10 de março de 2008

The Secret

Durante dois anos e dois meses fiquei assim… à deriva, adormecido, cercado por tubarões.
De repente, acordei.
Deve ter sido o roçar de uma barbatana num antebraço, um splash de impaciência de quem me queria devorar, ou até mesmo gritos vindos da praia.
Farto do sol, dos esqualos e da deriva, eis que pego nos remos e ritmadamente, me lanço decidido, em direcção a terra firme.

Viram, ou leram, "The Secret"?
Eu vi o filme. Reservei o meu sofá durante uma hora. Eu, os gatos e os aperitivos japoneses ficámos para ali, em frente ao ecrã.
E o que vi?
Apenas a minha filosofia de vida, em linguagem televendas.
Estava lá tudo: a forma inequívoca de como eu atingia qualquer objectivo a que me propusesse alcançar. A falta de dúvidas em consegui-lo, a naturalidade insolente, arrogante, com que chego, onde, e a quem quero. Quando quero.
Bom, tendo percebido isso, cedo os gatos foram brincar aos foguetes siameses ao longo do corredor. Fiquei ainda ali, esperando encontrar naquele ecrã a resposta para a dúvida que se ia instalando no decorrer do filme: Se eu sou assim, porquê, além de não ser rico, me encontrava mais pobre?
E eis que ela apareceu, a tal da resposta: Falta de Objectivos.

Durante dois anos e dois meses, não tive objectivos concretos, não ambicionei nada... a não ser sobreviver.
Talvez por dois motivos. Um, porque as anteriores vitórias, me abalaram mais que qualquer derrota, o que levou ao Dois: ter de me vencer a mim mesmo.
Foi um processo que me drenou, o ter-me vencido.

"When the gods want to punish you, they answer all your prayers"…

Não rezo para que as coisas aconteçam, mas faço por isso. Aconteceram-me coisas, porque eu quis que acontecessem, que iam dando cabo de mim. Encomendei-as, e apareceram naturalmente envoltas no melhor dos embrulhos.
Estive no céu. Mas quem lá chega sabe que a única porta que existe, além da do mesmo, é a do inferno…que foi por onde entrei em seguida.

Talvez, traumatizado por ter atingido objectivos que me queimaram as penas de cera, isso me inibisse de cobiçar algo mais além... durante os dois anos e dois meses seguintes...

Este verão estive numa ilha, durante uma semana.
Ao fim de todas as tardes ia correr quase toda uma extensão de praia interminável. Chegava lá ao fundo, onde não havia gente...terra de gaivotas. Desligava os Nirvana, despia-me e mergulhava na água cálida. Quem leu Freud sabe o que significavam, esses mergulhos em líquido salgado, e o secar-me com o calor de fim de tarde, a seguir.

Nessa semana construí o meu sonho. Aquilo que eu quero, para mim, e para muitos. Para este país.
Não. Não é para ficar rico.
É para ficar multimilionário, muito naturalmente.

Antes desse tenho outros, mais próximos, a concretizar.

Voltei a ser saudávelmente ambicioso.

sexta-feira, 7 de março de 2008

"My God...Is Full of Stars"!...

Até há pouco, intrigava-me o facto dos maiores astrofísicos confessarem-se profundos crentes na existência do sobrenatural. Porque sendo cientistas, parecia-me um contrasenso.

E porque carga de... ÁGUA... é que, a mim, me parecia um contrasenso?

Vão buscá-la à cozinha... a sério. Um copo cheio. E tragam também um vazio...vais ser necessário, para a explicação (é aliás, o mais importante dos dois).
Coloquem-nos lado a lado.
Mas observem bem o copo vazio. É aí que a acção vai decorrer...

Um copo cheio de nada. Foi o que o homem primitivo encontrou, na natureza em que habitava.
Bem, ainda não existiam copos como aqueles que estão à sua frente, mas como o cérebro tem uma certa dificuldade em lidar como conceito de vazio, toca de o encher com algo. Foi o início da Filosofia.
Assim, tudo o que acontecia, tudo o que o rodeava, era tão maravilhoso, tão elaborado, tão magnífico, que o nosso homem primevo teve logo que arranjar justificação para todos aqueles cookies naturais com que era brindado, mesmo os que o assustavam. Assim, a cada maravilha, ia associando um criador-gestor da mesma... ao fogo, à água, ao sexo... foi assim que nasceram os primeiros deuses, que eram quase como patrões de tudo o que o transcendia. Verificamos isso, que considero algo muito bonito, nas sociedades primitivas.
Aliás, sobrenatural e criação estética têm sido uma recorrente e constante associação... ainda bem.
Depois, e porque certos cérebros, que como o meu, têm a tendência para procurar o flanco das coisas e tentar desvendar os seus segredos, houve gente que começou a associar ideias, a experimentar e a chegar a conclusões sobre muitos dos mistérios anteriores.
Nasceram o Método Científico e... a Ciência.
Essas conclusões, após aprovação geral da civilização vigente, transformaram a Ciência em algo um pouco mais engravatado, pomposo: O Conhecimento Científico ( existe Outro, mas já lá vamos...)

Olhemos para o copo cheio. O que está lá dentro, a água, vamos considerar Conhecimento Científico em bruto.
Vamos pegar nele e despejar um pouco desse Conhecimento Científico dentro do copo vazio: meio-dedo.
Agora podemos criar uma relação: O meio-dedo de água presente no copo refere-se a parte da realidade que rodeava a gente que começou a associar ideias, a experimentar e a chegar a conclusões sobre muitos dos mistérios: o Conhecimento Científico.
A parte vazia do copo, bem maior, é aquela que ainda está preeenchida pela realidade sem explicação.

Não ficou sózinha e abandonada. O homem deu-lhe um cunho esotérico, mágico...sobrenatural.
Consoante a civilização ia amadurecendo, assim o copo se ia enchendo um pouco mais de Conhecimento Científico e ia encurtando o espaço vazio do sobrenatural (podem ir enchendo o copo, e acompanhando a conversa).
Até que chegámos a um ponto em que o copo já está com uma certa quantidade de água e com menos espaço vazio. É o ponto, em que graças ao Hubble, começaram a olhar para mais longe, os astrónomos e os seus gurus, os astrofísicos...

Convém interromper esta metáfora. Considero, nesta dissertação, sobrenatural algo que, sendo mistério, para o qual se arranja a explicação que está mais à mão da conveniência do poder terreno que nos rege.
Não estou, de todo, a referir o Divino.
O Divino é estudado por gente de bem. Não existem meras e prosaicas conclusões, como no âmbito da Ciência. Existe um Saber sobre o mesmo. Mesmo os seus mistérios, acarinhados, pertecem a esse Saber...
A forma de o atingir não será aqui abordada, por mim. Não sou, de todo, digno... muito simplesmente.

Continuando com os astrofísicos...
Pois é. Completamente dominados pela ideia do sobrenatural (para mais com aquela, baratucha, do "algo superior a nós"...como se isso fosse extraordinário, existir algo superior ao lixo de carbono que somos)...
Sendo cientistas, como é possível?
A explicação é simples. Até agora, um laboratório era apenas uma cozinha mais sofisticada, com copos como os que estão em cima da mesa, um pouco mais retorcidos. Em vez da porta do frigorífico, onde se escreve a gestão do activo e do passivo da cozinha, um quadro negro com fórmulas matemáticas onde se faz o mesmo com o Conhecimento Científico. E computadores, em vez do micro-ondas.

O Hubble, entre outras factores, veio alterar isso tudo. Lançou toda a gente num cosmos de dúvidas, e agora, um astrofísico sente-se exactamente como o homem primitivo, ao observar todas as maravilhas que o intrigavam... Rodeado por deuses.

...A observar um copo completamente vazio.


Foto: Nebulosa de Orion (Hubble)

I Put A Spell On You

'cause you're miiiiiine... PDL do Dub...

quinta-feira, 6 de março de 2008

Saber Vencer

Estou com obras no prédio.
Mesmo no andar debaixo.
Devia ser o inquilino mais preocupado com o facto. O edifício é antigo, daqueles de pé direito bem alto e tecto decorado. Propício a rachas, se abanado.
Devia ser eu, o mais preocupado, como referi. Mas não o sou.
Desde que as obras começaram, todos os locatários fazem romaria, à vez, na porta debaixo de minha casa.
Chegam. Entram. Inspeccionam com ar de fiscais, e, de dedo em riste, ameaçam com tudo e mais alguma coisa, se alguma trave mestra for beliscada. Referem as rachas que vão aparecendo nas suas próprias casas, responsabilizando pelo facto as obras. E exigem reparação. Com todo o direito, claro. Não sei é se a vão ter, mas já lá vamos...

O chão de minha casa é constituído por tábuas largas de madeira envernizada. São as originais. Datam da construção do prédio. Diga-se de passagem que é um dos soalhos mais bonitos que já vi, o meu.
Os interstícios entre as tábuas são preenchidos por uma massa, também coberta por verniz. Quando ela se solta um pouco, os meus gatos divertem-se a retirá-la com a unha e posteriormente a jogar hóquei com o pedaço...

Hoje de manhãzinha, após o chinfrim que anuncia o começo das obras, dei com os tigres a olhar por uma das frestas. Olhei também. Eis que, ao baixar-me... pela fresta, vislumbro o chão do piso de baixo! Completamente cheio de entulho...

Que fiz eu? Peguei num papelinho dobrado, e escrevi nele o seguinte:

Meus caros:
Isto não era suposto acontecer, pois não?


A seguir cosi o papelinho a um longo fio branco. Meti-o por entre a fresta e deixei-o cair, preso pela linha, à altura do olhar dum homem de estatura média. Colei a ponta com fita-cola, fui tomar banho e vestir-me.
Quando desci, a porta encontrava-se aberta. Entrei com o meu sorriso nº7.
O senhor que estava encarregue da obra era russo e não percebia nada de português. Tinha, numa mão, o meu papel, e na outra, um telemóvel com o qual falava com o patrão. Sorrindo, estendeu-me o telefone.
Tive uma conversa bem disposta com o meu interlocutor, que se prontificou a reparar, o mal causado, logo no fim do dia, pedindo-me desculpas. Eu respondi que podia esperar...
E vou esperar.
Pelo fim das obras. E sei, que nessa altura, os senhores que estão lá em baixo a martelar, virão cá acima e não só me vão reparar a fresta como as rachas que há algum tempo tenho no tecto do atelier, e outras ainda que eles descubram.

Porquê?
Porque agi na altura certa e da forma mais eficaz.

Também tinha anteriormente sido convocado para a romaria:
" vá lá vizinho, a união faz a força..." Educadamente respondi que sim, também eu iria lá de dedo em riste, mas naquele dia... não, porque estava com pressa.

Não fui, porque sei umas coisas...

Quem faz obras num prédio, está habituado às tais romarias, inspecções, denúncias etc. Como qualquer profissional que tem funções ingratas e impopulares, cria as suas defesas, os seus anticorpos, os seus truques. Entrarem por ali de dedo em riste a ameaçar com fiscalizações é para eles motivo de bocejo...
Agora, levarem com um papelinho pelo tecto...essa seguramente nunca lhes aconteceu.
Foi um momento de bom humor, que me dará os seus frutos, já descritos.

Sou um adepto de estratégia, e, em qualquer confronto, ao contrário da maioria, procuro logo o flanco do adversário. Mesmo que ele nem sequer saiba da sua existência, encontro-o sempre. E é por aí que vou. Sou criativo no ataque e na conquista dos meus objectivos. E respeito, metafóricamente, um dos princípios do Sun Tzu: em caso de vitória, mantém intacto o exército alheio.

Tivessem os americanos respeitado essa máxima e teriam outro Iraque diferente do que lhes queima agora as mãos...

Venham aprender com este inquilino dum prédio antigo, em Lisboa...
Não. Não fica em África...

Mimar uma casa

Adoro a minha casa. E quando a quero mimar coloco isto, muito alto. Sei que ela gosta...
A música é dos Joi: Fingers.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Ser Super

Hoje li que alguém se sentia o Máximo. Compreendo. Sempre adorei Super-Heróis.
E a vida deles não é fácil...para quem conhece os da Marvel, sabe que não é pêra-doce combater Super-Vilões e manter diálogos e monólogos interessantes enquanto se desfere um raio mortal ou se lança um automóvel contra o bicho...
Aqui vai a versão palestiniana no feminino, do Capitão América, um dos meus favoritos. A música é dos Mirwais (Definitive Beat). O filme, Intervention Divine. Um dos melhores que vi nos últimos anos...
Podem chamar-me estranho. Já me habituei...

É só clicar no textinho que vai a bold...

terça-feira, 4 de março de 2008

Acabei de fazer isto. Duas vezes.

Acabei duas cartas. Uma referente à cessação dum contrato de prestação de serviços eventuais, detentora duma linguagem formal. Outra, dirigida ao Presidente da empresa onde colaborava, com um teor mais personalizado, que ele, sendo quem é, merece.
Tenho que abandonar esta minha colaboração. Pedem-me para voos mais altos e prolongados. E claro, voar é comigo. Tinha a colecção em BD do Super-Homem, sempre foi o meu favorito, e há dias mesmo em que me falta só isso...voar.
Foram duas basucadas. Espero que venham a ser úteis. Quando as lerem, embora eu continue lá, já morri. E toda a gente venera os mortos...atente-se ao valor legal da declaração dum moribundo.
Então dum morto? Ui!

Todas as empresas possuem gente que não presta.
Chega a altura de vocês afirmarem: ok, podem não prestar, mas as coisas funcionam...
Não.
Não prestam mesmo. São ervas daninhas que precisavam de ser plantadas num qualquer deserto para o esverdear. É a única utilidade que lhes vejo.
Nas minhas cartas, lá bem no meio das entrelinhas, num código que sei ser perceptível a quem são destinadas, encontram-se verdadeiras listas negras...
Não é que eu seja mau. Sou apenas...útil.

Hoje o dia não me correu nada mal. Logo pela manhã, uma cliente, ao receber um layout que a preocupava, ficou tão agradecida pela qualidade tranquilizante do mesmo que me chamou génio..."o sr é um génio"... Não sou, mas fiquei satisfeito com a sua felicidade.
Depois tive uma reunião em que me convidaram para um projecto em que vou voar e ajudar a voar...
Vá lá, digam que não mereço um pouco de fogo de artifício...

segunda-feira, 3 de março de 2008

O Piloto

Sabem o que é um jornalista de automóveis?
É um profissional de comunicação que escreve sobre carros. Para isso, tem de os conduzir.
Normalmente, as marcas disponibilizam, aquando da saída dos primeiros modelos, uns quantos para serem experimentados pelos jornalistas. A maior parte são Familiares, Utilitários, Breaks...enfim...os automóveis do dia-a-dia do comum dos mortais.
Mas...de quando em vez, consoante o seu prestígio e conhecimentos junto da marca, o jornalista é brindado com a condução de topos de gama, ou mesmo de automóveis de excepção.

Conheci e trabalhei com vários desses homens, e cheguei mesmo a conduzir alguns automóveis extraordinários, nessa altura. Era Director de Arte de uma revista de automóveis.
Lidar quotidianamente com uma excelência que não nos pertence, como no caso daquela gente, que por vezes pilotava Ferraris, AMGs, BMs ou Jaguares de topo, era algo que me fazia pensar.
Permaneciam com os carros na sua posse durante dias e noites. E, muitas vezes, no lugar do pendura, ouvia-os desdenhar da qualidade daquelas obras-primas: "estás a ver esta manette das mudanças? seis mil quilómetros e tem já uma folga indesculpável, treme como um pudim. E este relógio no painel... uma merda..."

Mas eu sabia, porque muitas vezes me diziam, que era com um pequeno nó na garganta que pegavam neles pela manhã, cobertos pelo orvalho. E, durante os lentos passos até à porta do carro... como se inebriavam com a sua beleza...
E o prazer de os pilotar?... Um jornalista de automóveis é obrigatóriamente um apaixonado.
Conduzir, conduzia eu e você. Eles... pilotavam...

Uma vez cederam-me uma Barchetta Renault para dar umas voltas. Tratava-se de um automóvel de série limitada, cuja filosofia era tentar transmitir a sensação de pilotar um F1. Deixei-o ir abaixo várias vezes, e como os F1, aquilo não tinha direcção assistida. Para mais, era um carro que dava nas vistas, tipo Le Mans, e eu não me sentia nada confortável parado nos sinais com toda a gente da rua a observar-me.

Mas eu ainda não era um piloto...

Aqueles homens eram amantes. Pegavam num carro de excepção, e davam-lhe todo o prazer que uma máquina pode ter ao ser levada aos seus limites, ao deixá-la exausta de tanto dar de si mesma. De tanto se entregar... A alguém a quem não se pertence.

E depois, no dia e hora combinados, estacionavam o carro no parque do concessionário, e com um sorriso forçado entregavam as chaves.

Não olhavam para trás...

domingo, 2 de março de 2008

A Arte da Guerra

Click! no textinho a seguir> Isto lembra-me o melhor duelo da História do Cinema: um dos takes de "Sete Samurais" do Kurosawa. Não durou um segundo e o metal só golpeou o necessário (para quem não viu este filme a preto e branco, o cover cinematográfico acontece no Matrix Reloaded quando Morpheus golpeia um Escalade de lado a lado com uma katana…à americana: o carro explode monumentalmente, como se tivesse cinquenta tanques de gasolina...
Já escrevi isto noutro sítio, mas hoje tenho muito trabalho e tenho que dosear a minha força. Como os bons atletas, ou os bons samuraii...

encontrei ixo no caixote de lixo

Primavera

Vem aí. Debaixo do gelo encontra-se uma praia...com conchinhas. É lutar muito, muito, muito no inverno, que ainda não acabou, e saber esperar depois, como o primeiro da foto.
Hoje tenho muito que fazer, apesar do sol, por isso não tenho disponibilidade para conversas sérias. Assim, como é hábito, falo do tempo...mais um bocadinho.

sábado, 1 de março de 2008

O tempo vai estar bom...espero

Caridoso conselho para algumas criaturas do sexo feminino: peguem nos carros, nos jipes e façam, por favor, aquele tourisminho de fim de semana. Podem levar amigas. Terrinhas simpáticas e convenientes como esta não devem faltar. E decerto, como neste caso, encontrarão souvenirs interessantes...