segunda-feira, 24 de novembro de 2008

eis


Eis a capa do segundo número, já corrigido. Foi feita após uma falha de energia causada por uma avaria do gerador. Ninguém queria acreditar. Faltavam duas páginas para acabar o caderno a enviar para a gráfica e tive que tratar de questões como manutenção, quadros eléctricos e correias de refrigeração, durante duas horas. Após estabelecer um acordo com uma firma de manutenção dos geradores das duas casas, ali no meio da rua, lá respirei fundo e fiz a capa. No dia a seguir, a TPA entrevistou-me e uma das perguntas foi sobre as infra-estruturas, como elas afectavam o meu trabalho. Respondi que era pela falta delas que eu e outros estamos cá, para as criar. O design é a minha última preocupação, durante um dia de trabalho. O mesmo é passado a resolver problemas técnicos e humanos. A esboçar as tais infra-estruturas.
Um dia Angola será um país próspero e urbano. Sorrirei sabendo que algo se deveu a mim.
A ultima página do primeiro número. Enfim, lá estou eu, bem atrás, encostado à cerca. Não encontrei lugar à frente. Utilizo muito a expressão ''ficar na fotografia'', que aqui se justifica plenamente. Raros são os que se encontram em primeiro plano que participaram activamente, à excepção do director, que com esforço lá arranjou um lugar.
Acompanha-me o meu craque, o Raul, um gigante de vinte e sete anos que nasceu para o design. Se carregarem na imagem ela aparece aumentada.
No fundo da página encontra-se o Zero. Os gatos aqui são malditos, conotados com a feitiçaria.
Encontrava-me eu no meu gabinete e ouvi miar. O Pitigrili entrou ou e disse que estava lá fora um gato a chamar por mim. Desci e após alguns minutos a redacção ficou estupefacta ao ver-me entrar com um gatinho da rua ao colo. Desde esse dia ele segue-me como um cão. Se saio, ele vem a correr, saltando à minha volta até eu pegar na mota e sair. Quando se porta mal é ''o teu gato'' ...''tu é que és o pai dele''. Quando se porta bem é ''o nosso Zero''... É super meiguinho.
Quem assina o texto de opinião é o editor de política, o meu grande José Kaliengue. Eu, ele e o director formámos um trio imbatível naqueles dias sofridos. Mas temos o semanário de referência que nos foi pedido... feito com sofrimento mas também com muita alegria.
Trabalho com homens extrardinários.

domingo, 16 de novembro de 2008

Magno.

Perguntaram-me, por estes dias, como eu sentia, encontrando-me na minha pele. Na pele de alguém decisivo ao lançar ao mundo um jornal que em semanas, após ajustes, decerto se tornará num dos melhores de língua portuguesa e num dos mais agradáveis de folhear do mundo, mesmo para as sensibilidades mais sofisticadas. Faziam-me essa pergunta de todas as formas, e de olhos muito abertos, sobretudo aqueles que acompanharam de perto todas as dificuldades que tive que ultrapassar, a todos os níveis, desde a falta de sistema informático devido a um incêndio até à falta de fotografias por desajuste com as agências noticiosas e outros factores. Todo o transporte de ficheiros entre computadores foi feito por pen drive. Não posso ver mais nenhuma à frente. Toda a arquitectura de rede por mim concebida foi inútil. Houve choro contido entre muitos. Em dois dias, dormi três horas e meia. Lutei contra o meu sono e exaustão, e ainda conseguia moralizar trinta pessoas, muitas por mim fisicamente levadas para dentro do edifício quase vencidas pelo pesadelo de fazer algo extremamente complexo de forma primitiva.
Geri o caos. Sabem como se sente alguém que gere o caos?
Mas não estive só. Acompanhavam-me homens e mulheres do melhor que já conheci, porque, após algo assim, a magnitude que nos invade, que é a resposta à pergunta de qual é a sensação, não mais nos larga.
É um sentimento só comparável ao duma vitória em épica batalha. Olhamos para quem nos ombreia de uma forma nobre. Foi uma honra travar este combate, lado-a-lado, com tão ilustres jornalistas, quer angolanos, quer portugueses. E demais profissionais. Foi lindo, ver a minha equipa a corresponder de forma tão eficaz, a tão difícil e cruel demanada. Treinei-os bem. No dia seguinte todos nos abraçávamos, ao ver o jornal sair da rotativa. Ninguém se lembrava que se encontravam presentes dois ministros...

O desafio era grande. Fazer por aqui algo equivalente ao ''expresso''. Diz quem me conhece que parecia que tudo na minha vida se conjugara para o abraçar. Apesar de tudo, de não existir um número zero para ter a oportunidade de limpar os vários pormenores menos bons que aconteceram. Os meus objectivos foram cumpridos. Sinto que fui responsável por algo sublime, e que a minha fibra foi determinante para dar todo o apoio a homens e à máquina. E o jornal, está lindo.
Fiz história. Já me encontro nela. Como me posso sentir, então?

Um grande abraço a todos e obrigado por toda a energia.