terça-feira, 24 de agosto de 2010

Muita Parra

Em Mercenários, Stallone tentou enfiar no mesmo ecrã todos os duros da tela que ainda mexem. Só Steven Seagal e Jean Claude Van Damme faltaram à chamada. O resultado lembra as matinées

A ideia era excelente e bem transmitida pelo magnífico design gráfico do material promocional: todas as lendas vivas dos filmes de acção desta década e da outra, juntas numa explosiva megaprodução.

Um projecto tão ambicioso obrigava a um eficaz controlo remoto para atingir um resultado que não deveria ser outro que não o impecável. Mas não. Mercenários, de Silvester Stallone, anda bem longe da perfeição que se adivinhava ao observar os posters. Um mau argumento onde até o clássico ditador fantoche sul-americano de uma república das bananas já antes vista com outros nomes em inúmeros pré-dolby, e um fervilhar de clichés, alguns... bem, até agradáveis (graças aos deuses) como o da caliente beleza tropical de Giselle Itié, colocam este filme, apesar do sucesso que faz entre o público, no patamar da série B…

Não é que se deva ter nada contra o estilo — alguns filmes de série B são agora clássicos - contudo não era esse certamente o objectivo de Stallone: o que se pretendia era um filme de acção de qualidade, algo tão bom como o primeiro Rambo que Stallone desempenhou, ou os excelentes filmes da série do Assalto ao Arranha-Céus com Bruce Willis, A Verdade na Mentira com Schwarzenegger ou as películas mais recentes da série Transporter com Jason Statham, absolutamente fantásticas. Como referência, Assalto ao Arranha-Céus projectou os filmes do género a um nível para além do das matinées, e, graças ao sucesso do agente McLane, Hollywood entrou num corrupio para oferecer filmes de acção com bons argumentos, boa realização e bom elenco.

Neste, o cast é de primeira, mas fica pelo ser. Só Stallone, Li, Lundgren e sobretudo Statham, é que trabalham. Os outros apenas aparecem... ou vão aparecendo.

Mickey Rourke tem uma aparição piegas na pele de um tatuador motoqueiro que conheceu outros dias como máquina de guerra, e, perdoem-me, mas mal vi Bruce Willis e não vi, de todo, Schwarzenegger, ocupado como estava nas duas vezes que saí da sala de exibição para encontrar um arrumador que fosse transmitir ao projeccionista o facto lamentável de o filme estar a ser projectado com um enorme desfoque no ecrã. Por causa disto perdi estes dois. O desfoque continuou, e perdi também o detalhe de todos os planos de conjunto da película. Qualquer cena com mais de dois personagens e as caras desvaneciam-se lamentavelmente no fundo de elementos apenas adivinháveis… A cena do ataque picado do hidroavião deveria ter sido fantástica, em condições normais de projecção...

Ainda assim, o público vibrou e vai continuar a vibrar com aquilo que o filme oferece de melhor: as cenas de acção. Sobretudo as protagonizadas por Jason Statham, que nos brinda com a sua coreografia de combate típica e com outra coisa: algo que andava tão arredado do género, aqui tão bem feito que até parece novidade: o combate com facas e a projecção de punhais, com o apoio duma sonoplastia metálica e sibilante. Esta é também um garante de impacto nas cenas de tiroteio e explosões, como na cena em que Hale Cesar (Terry Crews) com uma arma apocalíptica - a AA 12 Automatic Shotgun, a disparar mini-granadas de fragmentação - vai vaporizando os “maus”em spray cor de rosa...

Lundgreen ganhou o estigma de mau da fita em Rocky IV e não é neste filme que o perde. Li protagoniza algumas das linhas de humor mais engraçadas, sempre com cara de pau, e Stallone indefine-se: isto de dirigir um filme onde também se entra não é para todos.

Aliás, Stallone não conduz a coisa de forma séria, e não se sabe se alguma vez foi essa a sua intenção. A sublinhar a dúvida: a última cena, depois do fim, em que a “malta” do filme vai confraternizando entre piadas. Devia ser isso mesmo o que Stallone pretendia, além da exibição da musculatura invejável para a idade. Mas é pena, com um melhor argumento poderia ter ido mais longe que este encontro de confraternização entre “ex-combatentes”…

terça-feira, 27 de julho de 2010

No reino dos sonhos

Imaginem que, ao adormecer, seria possível termos o mesmo sonho... como em A Origem, de Cristopher Nolan

Don Cobb, interpretado por Leonardo Di Caprio, pertence a uma nova estirpe de criminosos globais: é um extractor, isto é, um salteador da mente, um ladrão de segredos colhidos durante o sono das suas vítimas, e para tal lidera uma “quadrilha” de especialistas composta pelo químico Yusuf (Dileep Rao), que produz as drogas necessárias para induzir e controlar os sonhos cujos cenários são concebidos pela jovem arquitecta Ariadne (Ellen Page), além do mestre em disfarces Eames (Tom Hardy) e do seu braço-direito de sempre, Arthur (Joseph Gordon-Levitt).

Após anos de rapina no reino dos sonhos, o que o tornou um fugitivo, Don depara-se com a oportunidade de limpar o cadastro ao aceitar a proposta de Saito (Ken Watanabe): a missão de, em vez de roubar ideias, inseminar, com uma ideia que funciona como um vírus inteligente, a mente de Robert Fischer (Cillian Murphy), filho do dono recém-falecido de um império económico global.

É um filme extremamente ambicioso e exigente, que requer do espectador o acrobático esforço de atenção necessário para acompanhar um enredo em que sonhos se desenrolam dentro de outros sonhos, cada um dos quais com o seu tempo (10 segundos num representam vinte minutos noutro, e horas, no outro a seguir…) e em que os protagonistas agem em cenários com uma lógica visual próxima das gravuras de Escher, repletas de paradoxos.

Este labirinto narrativo é magistralmente resolvido no ecrã por Nolan, sustentado pelos 10 anos de preparação do filme, e naturalmente, pela tecnologia actual. Após as primeiras sequências, espectaculares, em que o espectador é confundido pelo insólito, o filme explica-se, e começa um thriller de ritmo alucinante desenrolado em três níveis de narrativa interligados, em cenários e situações só possíveis… em sonhos.

E pronto.

Eis um blockbuster certamente bem feito, cuja qualidade se sente logo no primeiro frame, e que seguramente será um sucesso, a julgar pelas palmas no fim de cada exibição e pelos recordes de bilheteira que estão a ser batidos um pouco por todo o lado.

E agora vamos a coisas sérias.

Cristopher Nolan, o inglês responsável por A Origem, tem 40 anos e alguns, não muitos, filmes no seu currículo. Insomnia,com Al Pacino, Robin Williams e Hilary Swank, despertou a atenção dos críticos e acordou algum público. Mas foi Batman - Cavaleiro das Trevas, o seu primeiro blockbuster, que o projectou no mercado.

A acção deste “cavaleiro das trevas” decorria numa época sem valores. Uma época em que não existia o mínimo princípio ético, na sociedade, na política, nos negócios. Uma época que baniu convenientemente o conceito do bem e do mal, e, em que, até os próprios criminosos, a Máfia, se sentiam violentados pelo fim dos valores, das linhas mestras. A época do cada um por si. Uma época de... trevas. Essa época existiu: era apenas, e só, a contemporânea da feitura do filme: a que, por tudo isto, detonou a profunda crise mundial do Outono de 2008.

Num estudo efectuado no final do século XX relacionavam-se as músicas que encabeçavam o top com o nível de prosperidade vigente e a conclusão a que se chegou foi a de que as canções mais alegres e optimistas lideravam nas alturas de crise e as mais tristes nas de abundância. E isto, compreensivelmente, porque as pessoas, num efeito catártico, aproximavam-se das manifestações artísticas como alternativa à sua realidade.

Batman-Cavaleiro das Trevas não era de visionamento fácil, para quem antevia a caída no precipício de uma crise mundial: no filme encontravam-se descritos todos os ingredientes que a iriam despoletar. Em A Origem, Nolan convida a uma fuga da realidade (a actual?) e recria uma outra-a dos sonhos - recheando-a com a simbologia dos tempos que vivemos: labirintos, paradoxos, fitas de möbius conceptuais, escadas sem fim. Discute o que é tecto e o que é chão, tempo e gravidade…

A própria história de amor, bizarra e litigante, desenrola-se na mente de Cobb com a projecção da memória da sua mulher desaparecida, Mal (uma Marion Cotillard cada vez mais viciante, filme após filme).

Cada obra espelha a altura em que foi concebida, o que é sobretudo patente na ficção científica, mas Nolan tem uma capacidade especial para traduzir não só o espírito, mas também a angústia dos tempos... batendo recordes de bilheteira. Não se limita a fazer bons filmes. Com isto valoriza-os, transmitindo-lhes um cunho histórico.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O que é certo e o que é real


Esta é uma última crítica de cinema publicada de uma série de seis que escrevi para o jornal onde trabalho. As outras foram District 9, 2012, Sherlock Holmes, Avatar e Robin Hood. Sei que deveria ter feito o mesmo que fiz com esta – publicá-las aqui – contudo, não sei se repararam... andei um pouco afastado deste espaço...
Escrever crítica de cinema para o público angolano requer, sobretudo, pudor. Esta é uma sociedade tradicionalista, com uma moral profundamente cristã, em que os valores da família se encontram extremamente presentes e condicionam todo o resto. Sobre isso, especificamente, escreverei num outro dia.


De uma primeira obra de alguém com excelentes cartas de recomendação espera-se muito. Longe da Terra Queimada é um filme correcto, tem um excelente argumento e a direcção do luxuoso elenco até surpreende. Falta-lhe apenas alguma daquela irreverência que gera a magia das grandes obras.


O crepitar violento duma grande roulotte em chamas, no meio da vegetação seca de uma planície, é o começo deste primeiro filme de Guillermo Arriaga, o argumentista da já “quase-obra-de-culto” de Alejandro González Iñárritu, Amor Cão, além das outras duas 21 Gramas e Babel, deste mesmo realizador mexicano.
Guillermo escolhe uma pequena cidade do deserto americano do Novo México como palco do drama primeiro que envolve Gina (Kim Basinger), casada e mãe de 4 filhos, que se apaixona e mantém uma relação extraconjugal com Nick (Joaquim de Almeida), também casado e pai de dois filhos adolescentes.
Este envolvimento caracteriza-se mais pela secura da culpa de Gina, que o vive com um permanente nó na garganta, que pelo romantismo. Sobretudo quando é descoberta por Mariana (Jennifer Lawrence), a perspicaz filha adolescente.
A partir daí, desencadeiam-se os acontecimentos trágicos que culminam em violentas chamas, a morte de Gina e do amante na roulotte onde, numa última tarde juntos, exploravam o segredo da sua intimidade.
As chamas desse incêndio não se extinguem naquela tarde trágica e plantam-se na alma de Mariana que, anos mais tarde, com uma nova identidade — Sylvia (interpretada agora por Charlize Theron)— delas foge e as ameniza ad continuum com uma chuva inconsequente de amantes, no contraste de Portland, aqui uma cidade fria e cinzenta, banhada pelas nuvens e por um mar violento.
Contudo, algo mais importante que as chamas ficou para trás.
Após a morte dos amantes, o filho mais velho de Nick, ao descobrir Mariana, apaixona-se por ela e procura-a. Os dois começam então um envolvimento bonito e puro, que contrasta com o sofrimento culpado da pecaminosa relação dos seus pais.
Ao ser descoberto pelas respectivas famílias, o seu romance torna-se também um amor proibido e perseguido e, neste dramático contexto, é concebida e nasce uma filha, Maria, que, com dois dias de vida, é abandonada pela mãe…
Em Longe da Terra Queimada (The Burning Plain), Guillermo Arriaga explora, numa metáfora, as vidas simples — as planícies — e os dramas que as devastam — os incêndios. A narrativa desenrola-se em histórias e personagens que se cruzam no espaço e no tempo, como nas obras de Alejandro González Iñárritu, ao estilo de Pulp Fiction. A imagem do incêndio (a acção) e da planície (o palco, o cenário) percorre o filme na maneira e no esforço nítido que Guillermo faz para abordar, com a câmera, todo o enquadramento na enorme presença e cuidada importância dos panos de fundo de cada cena.
O argumento é, naturalmente, um dos pontos fortes do filme. Para além dele, Guillermo oferece-nos personagens bem construídos, auxiliados pela sempre presente lógica do contraste, patente sobretudo no duo Gina e Nick (quarentões feridos pela vida em que até a intimidade se revela um acto dramático, sofrido e pleno de culpa. Sem saberem como lidar com uma situação errada, a vão vivendo em esforço, como Nick afirma a dada altura: “não sei se isto está certo mas... é real”) versus o par Mariana e Santiago, que vivem a candura do romance adolescente.
No caso de Gina, o bom desempenho e caracterização de Kim Basinger formaliza a enorme nota de culpa de uma mãe de quatro filhos, vencedora de um cancro que a mutilou e que, ao ver de perto a morte, fica condenada a viver cada dia como o último, sendo empurrada por isto para a relação com Nick, medianamente interpretado por Joaquim de Almeida.
O inocente amor entre os dois adolescentes contrasta com este dramatismo. O espectador é testemunha das etapas da sua construção no ecrã: Santiago e Mariana caçam pássaros, à fisga, e cozinham-nos num ritual pleno de simbolismo. Num delicioso pas de deux, criam cumplicidades. Fazem pactos de amor em que marcam a pele com o fogo. Embevecem-se tranquilamente. Em suma, namoram.
E têm o seu trágico momento “Romeu e Julieta” quando o amor dos dois se torna proibido, até à sua interrupção, que marca a metamorfose de Mariana em Sylvia (o que origina a segunda parte do filme).
Apoiado no seu excelente argumento, por um naipe de actores de peso, por uma boa fotografia e, sobretudo, por uma sonoplastia soberba (o estalar das chamas da roulotte a arder disputa, com as imagens das mesmas, a permanência na nossa memória), ainda assim Guillermo Arriaga não conseguiu o feito de Alejandro González Iñárritu com Amor Cão, ou de outros autores mexicanos, como Robert Rodriguez com El Mariachi: uma primeira grande obra.
É um filme correcto, bem elaborado, em que até por vezes somos surpreendidos por uma direcção de actores (actrizes, sobretudo) que nos mostra uma Kim Basinger e uma Charlize Theron para nós desconhecidas.
Contudo, apesar das situações de alguma irreverência, sente-se a falta da mesma. Aquela que gera a magia das grandes obras.

sábado, 3 de julho de 2010

robinhos


Ali ao lado, na tv, está a dar o resumo do jogo do Brasil-Holanda, e o Robinho acaba de marcar. Na altura, em directo, toda a gente pensou: é o destino que se concretiza, o do Brasil chegar ao hepta...

Andei ocupado por estes dias, e queria ter escrito isto antes, porque aí, ia brilhar... é que esta coisa de antever transmite algo assim de aura mágica de bruxo de luxo a quem publica, como por exemplo nas linhas em que denunciava o enorme disparate que tinha sido colocar alguém com problemas sérios consigo próprio como seleccionador nacional. Como no primeiro post sobre este triste assunto e no segundo, no terceiro, e agora, neste último. Perdermos cedo porque só percebemos, quer dizer, perceberam, tarde. E há quem ande a culpar o Cristiano (toda a gente, na verdade, e isso é triste).
Como antes afirmei, esqueçam os jogadores quando se trata de responsabilidades nestes assuntos. Eles fazem apenas o que lhes pedem e, ao Ronaldo e a todos os outros, pediram-lhes disparates. O senhor pode ser um excelente engenheiro, mas se o obrigarem a fazer balancetes ou a engendrar a contabilidade analítica da sua empresa... ela pode ir à falência. E depois dizem que é mau profissional? Foi o que aconteceu. Eles bem avisaram... o Deco, por exemplo...

Mas enfim, voltemos ao Robinho e ao Brasil.
Esta história do Brasil faz-me lembrar o Hitler e o Hitler faz-me lembrar o Estaline. Quando o do bigode pequenino invadiu o país do do bigode grande, na verdade o do bigode grande não se preocupou muito... e porquê? Já nos anos 40 a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas tinha uma população de centenas de milhões de habitantes, e o senhor do bigode grande sabia que o do bigode pequenino não conseguiria fabricar tantas balas como quantas pessoas houvesse na tundra.
Tão simples como isso.
Zukov mandava, por exemplo, vagas humanas em Estalinegrado contra as metralhadoras das SS com o secreto propósito de esgotar os paióis de munições alemãs.
E quando um general alemão perguntou a um embaixador suíço que, se invadisse o país com uma divisão de um milhão de homens, o que faria ele com um exército de quinhentos mil? Ao que o embaixador calmamente respondeu que os quinhentos mil apenas teriam que disparar, certeiro, duas vezes.
A Suíça nunca foi invadida.

Hitler e Estaline, já lá voltamos de novo...Robinho e Brasil, onde andam eles? Pois... eu sou assim, perco-me na paisagem.
Já viram algum jogo do campeonato Paulista, ou de outros daquele país? O que não faltam lá são robinhos. Aliás, um dos produtos de maior exportação do Brasil são os robinhos, que vêm de todas as raças e cores. Todo o clube de prestígio, em todo o mundo, tem de ter um ou mais robinhos, a falar português com açúcar. E agora até as selecções nacionais, como a nossa, têm robinhos, devida e burocraticamente nacionalizados.
Assim como ziliões de mujiques o Estaline tinha para gastar contra as MGs alemãs, o Brasil tem robinhos para colocar à frente das balizas adversárias. Na verdade, é só um país com 190 milhões de habitantes em que o futebol é quase uma religião e em que muitos preferem-no a sexo. E os brasileiros gostam muito, mas mesmo muito, de sexo...
Sendo assim, como se percebe que o Brasil, país com 190 milhões de loucos por futebol, tenha perdido com a selecção de um país com apenas dezasseis milhões e meio, em que metade, apesar da quantidade de campos relvados que vemos numa viagem de comboio pelas planícies holandesas, nem liga ao jogo?
Não é lógico, pois não? Porque se a lógica estivesse aqui metida, e fazendo comparações com auxílio duma matemática rudimentar, por exemplo, comparando com Portugal, que tem apenas 10 milhões e que a custo arranja uma selecção, o Brasil poderia ter dezanove selecções... e dentro delas, todas de luxo, escolheria uma super-hiper-ultra-mega-maxi... nec plus ultra selecção... que, ano após ano, venceria calmamente o Campeonato do Mundo, cujo único nobre propósito seria o de escolher o segundo lugar, como afirma o meu amigo Luís, ao acompanhar o meu raciocínio...

É que o futebol, como a vida, não se rege pela lógica, mas sim pela emoção, pelas circunstâncias, pela chuva, por isto e por aquilo. E é por isso que gostamos dele. Na verdade, se pensarmos bem, nada é por acaso. Como afirmava um sociólogo e pedagogo, se as crianças tivessem o tamanho de adultos, destruiriam o mundo. Se o Brasil fosse governado por alemães, seres lógicos e organizados, provavelmente ganhariam todos os campeonatos do mundo. E pior, talvez até o invadissem...

O futebol é fascinante, como todo o resto daquilo que vivemos...

Schiuu... ali ao lado, na tv, os holandeses já estão à frente do marcador.
O Estaline ganhou, com a força dos números.
Felizmente, o Dunga... não.

QUANDO, NA BANDEIRA DO BRASIL, LEIO "ORDEM E PROGRESSO", UI!...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fraude, fraude, fraude...


Está frio. Como em Janeiro.
Isto não é África. Porque essa é quente. Quente e pobre, ainda. Esta é uma África de mentira, rica, de arranha-céus. Rica e fria.
E eu? Também de mentira, mas serei frio... e pobre...
Como vim aqui parar? Como? Um dia irão descobrir... Mas, por vezes, até eu acredito. Como quando nos banhos de arraia aos choros e risos. Como quando as multidões me olham como se eu fosse realmente importante. Como quando quando me disputam autógrafos, aos encontrões. Como quando quando me dizem que sou importante (ao ouvi-los, evito os olhares de piedosa autosugestão, pois temo que os seus olhos suspeitem).
Como quando devo ser realmente importante: porque me pagam de todas as maneiras para isso...
Mas já não consigo. Não sou eu que o digo, mas... aqueles olhares de soslaio... os murmúrios... E agora o brasileiro! Bem, pelo menos agora já sei. Se ele o diz é porque quase todos o pensam. Quase todos... porque, para pensar...
Mas eles já sabem. Estes pelo menos.
Na verdade, nunca o consegui, mas eles querem tanto acreditar...
Pelo menos agora já sei. Que não gostam, mesmo, mesmo, de mim. Eu bem tento, mas é uma coisa minha... Eu bem tento... Vocês viram? Eu, a defendê-los? Quando, firme, reclamei o direito dos meus (queria tanto que fossem...meus... porque têm eles que crescer?) entrarem em campo com as fitinhas do Senhor do Bonfim, com os cordelinhos no pulso?
Assim talvez eles gostassem de mim... E não se zangassem em segredos e murmúrios. Nenhum me apoiou quando acusei a FIFA de ter favorecido o Drogba, com a fitinha dele... até andam abraçados. São todos da mesma laia...
Como os convenço? Como os convenço que sou eu que tenho razão? Tenho de os lesionar a todos?
Com os miúdos era mais fácil. Eram umas esponjas. E eu, um deus!... Fui tão feliz... Porque têm eles que crescer?
Li algo que me tirou o sono durante duas noites. Estava assim escrito: Uma orquestra de executantes medíocres, com um bom maestro, produz uma sinfonia decente, mas uma orquestra de virtuosos, com um mau maestro, é incapaz.
Houve outra, que comparava os jogadores da Selecção a armas bem calibradas e certeiras e, a mim... um atirador com péssima pontaria...
Querem ganhar, ser campeões e esses disparates todos. Não sabem que o que é realmente importante é... eu ter razão? Ainda acreditei que seria possível convencê-los. No Real e nos outros... isso era passado... e aqui tinha outra oportunidade, mas...
Eu bem tento... Como vim aqui parar?
Quiseram-me aqui. Que bom. Se calhar sabiam que eu tinha razão. E agora? Já não a tenho porquê? É a mesma...