terça-feira, 24 de agosto de 2010

Muita Parra

Em Mercenários, Stallone tentou enfiar no mesmo ecrã todos os duros da tela que ainda mexem. Só Steven Seagal e Jean Claude Van Damme faltaram à chamada. O resultado lembra as matinées

A ideia era excelente e bem transmitida pelo magnífico design gráfico do material promocional: todas as lendas vivas dos filmes de acção desta década e da outra, juntas numa explosiva megaprodução.

Um projecto tão ambicioso obrigava a um eficaz controlo remoto para atingir um resultado que não deveria ser outro que não o impecável. Mas não. Mercenários, de Silvester Stallone, anda bem longe da perfeição que se adivinhava ao observar os posters. Um mau argumento onde até o clássico ditador fantoche sul-americano de uma república das bananas já antes vista com outros nomes em inúmeros pré-dolby, e um fervilhar de clichés, alguns... bem, até agradáveis (graças aos deuses) como o da caliente beleza tropical de Giselle Itié, colocam este filme, apesar do sucesso que faz entre o público, no patamar da série B…

Não é que se deva ter nada contra o estilo — alguns filmes de série B são agora clássicos - contudo não era esse certamente o objectivo de Stallone: o que se pretendia era um filme de acção de qualidade, algo tão bom como o primeiro Rambo que Stallone desempenhou, ou os excelentes filmes da série do Assalto ao Arranha-Céus com Bruce Willis, A Verdade na Mentira com Schwarzenegger ou as películas mais recentes da série Transporter com Jason Statham, absolutamente fantásticas. Como referência, Assalto ao Arranha-Céus projectou os filmes do género a um nível para além do das matinées, e, graças ao sucesso do agente McLane, Hollywood entrou num corrupio para oferecer filmes de acção com bons argumentos, boa realização e bom elenco.

Neste, o cast é de primeira, mas fica pelo ser. Só Stallone, Li, Lundgren e sobretudo Statham, é que trabalham. Os outros apenas aparecem... ou vão aparecendo.

Mickey Rourke tem uma aparição piegas na pele de um tatuador motoqueiro que conheceu outros dias como máquina de guerra, e, perdoem-me, mas mal vi Bruce Willis e não vi, de todo, Schwarzenegger, ocupado como estava nas duas vezes que saí da sala de exibição para encontrar um arrumador que fosse transmitir ao projeccionista o facto lamentável de o filme estar a ser projectado com um enorme desfoque no ecrã. Por causa disto perdi estes dois. O desfoque continuou, e perdi também o detalhe de todos os planos de conjunto da película. Qualquer cena com mais de dois personagens e as caras desvaneciam-se lamentavelmente no fundo de elementos apenas adivinháveis… A cena do ataque picado do hidroavião deveria ter sido fantástica, em condições normais de projecção...

Ainda assim, o público vibrou e vai continuar a vibrar com aquilo que o filme oferece de melhor: as cenas de acção. Sobretudo as protagonizadas por Jason Statham, que nos brinda com a sua coreografia de combate típica e com outra coisa: algo que andava tão arredado do género, aqui tão bem feito que até parece novidade: o combate com facas e a projecção de punhais, com o apoio duma sonoplastia metálica e sibilante. Esta é também um garante de impacto nas cenas de tiroteio e explosões, como na cena em que Hale Cesar (Terry Crews) com uma arma apocalíptica - a AA 12 Automatic Shotgun, a disparar mini-granadas de fragmentação - vai vaporizando os “maus”em spray cor de rosa...

Lundgreen ganhou o estigma de mau da fita em Rocky IV e não é neste filme que o perde. Li protagoniza algumas das linhas de humor mais engraçadas, sempre com cara de pau, e Stallone indefine-se: isto de dirigir um filme onde também se entra não é para todos.

Aliás, Stallone não conduz a coisa de forma séria, e não se sabe se alguma vez foi essa a sua intenção. A sublinhar a dúvida: a última cena, depois do fim, em que a “malta” do filme vai confraternizando entre piadas. Devia ser isso mesmo o que Stallone pretendia, além da exibição da musculatura invejável para a idade. Mas é pena, com um melhor argumento poderia ter ido mais longe que este encontro de confraternização entre “ex-combatentes”…

terça-feira, 27 de julho de 2010

No reino dos sonhos

Imaginem que, ao adormecer, seria possível termos o mesmo sonho... como em A Origem, de Cristopher Nolan

Don Cobb, interpretado por Leonardo Di Caprio, pertence a uma nova estirpe de criminosos globais: é um extractor, isto é, um salteador da mente, um ladrão de segredos colhidos durante o sono das suas vítimas, e para tal lidera uma “quadrilha” de especialistas composta pelo químico Yusuf (Dileep Rao), que produz as drogas necessárias para induzir e controlar os sonhos cujos cenários são concebidos pela jovem arquitecta Ariadne (Ellen Page), além do mestre em disfarces Eames (Tom Hardy) e do seu braço-direito de sempre, Arthur (Joseph Gordon-Levitt).

Após anos de rapina no reino dos sonhos, o que o tornou um fugitivo, Don depara-se com a oportunidade de limpar o cadastro ao aceitar a proposta de Saito (Ken Watanabe): a missão de, em vez de roubar ideias, inseminar, com uma ideia que funciona como um vírus inteligente, a mente de Robert Fischer (Cillian Murphy), filho do dono recém-falecido de um império económico global.

É um filme extremamente ambicioso e exigente, que requer do espectador o acrobático esforço de atenção necessário para acompanhar um enredo em que sonhos se desenrolam dentro de outros sonhos, cada um dos quais com o seu tempo (10 segundos num representam vinte minutos noutro, e horas, no outro a seguir…) e em que os protagonistas agem em cenários com uma lógica visual próxima das gravuras de Escher, repletas de paradoxos.

Este labirinto narrativo é magistralmente resolvido no ecrã por Nolan, sustentado pelos 10 anos de preparação do filme, e naturalmente, pela tecnologia actual. Após as primeiras sequências, espectaculares, em que o espectador é confundido pelo insólito, o filme explica-se, e começa um thriller de ritmo alucinante desenrolado em três níveis de narrativa interligados, em cenários e situações só possíveis… em sonhos.

E pronto.

Eis um blockbuster certamente bem feito, cuja qualidade se sente logo no primeiro frame, e que seguramente será um sucesso, a julgar pelas palmas no fim de cada exibição e pelos recordes de bilheteira que estão a ser batidos um pouco por todo o lado.

E agora vamos a coisas sérias.

Cristopher Nolan, o inglês responsável por A Origem, tem 40 anos e alguns, não muitos, filmes no seu currículo. Insomnia,com Al Pacino, Robin Williams e Hilary Swank, despertou a atenção dos críticos e acordou algum público. Mas foi Batman - Cavaleiro das Trevas, o seu primeiro blockbuster, que o projectou no mercado.

A acção deste “cavaleiro das trevas” decorria numa época sem valores. Uma época em que não existia o mínimo princípio ético, na sociedade, na política, nos negócios. Uma época que baniu convenientemente o conceito do bem e do mal, e, em que, até os próprios criminosos, a Máfia, se sentiam violentados pelo fim dos valores, das linhas mestras. A época do cada um por si. Uma época de... trevas. Essa época existiu: era apenas, e só, a contemporânea da feitura do filme: a que, por tudo isto, detonou a profunda crise mundial do Outono de 2008.

Num estudo efectuado no final do século XX relacionavam-se as músicas que encabeçavam o top com o nível de prosperidade vigente e a conclusão a que se chegou foi a de que as canções mais alegres e optimistas lideravam nas alturas de crise e as mais tristes nas de abundância. E isto, compreensivelmente, porque as pessoas, num efeito catártico, aproximavam-se das manifestações artísticas como alternativa à sua realidade.

Batman-Cavaleiro das Trevas não era de visionamento fácil, para quem antevia a caída no precipício de uma crise mundial: no filme encontravam-se descritos todos os ingredientes que a iriam despoletar. Em A Origem, Nolan convida a uma fuga da realidade (a actual?) e recria uma outra-a dos sonhos - recheando-a com a simbologia dos tempos que vivemos: labirintos, paradoxos, fitas de möbius conceptuais, escadas sem fim. Discute o que é tecto e o que é chão, tempo e gravidade…

A própria história de amor, bizarra e litigante, desenrola-se na mente de Cobb com a projecção da memória da sua mulher desaparecida, Mal (uma Marion Cotillard cada vez mais viciante, filme após filme).

Cada obra espelha a altura em que foi concebida, o que é sobretudo patente na ficção científica, mas Nolan tem uma capacidade especial para traduzir não só o espírito, mas também a angústia dos tempos... batendo recordes de bilheteira. Não se limita a fazer bons filmes. Com isto valoriza-os, transmitindo-lhes um cunho histórico.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O que é certo e o que é real


Esta é uma última crítica de cinema publicada de uma série de seis que escrevi para o jornal onde trabalho. As outras foram District 9, 2012, Sherlock Holmes, Avatar e Robin Hood. Sei que deveria ter feito o mesmo que fiz com esta – publicá-las aqui – contudo, não sei se repararam... andei um pouco afastado deste espaço...
Escrever crítica de cinema para o público angolano requer, sobretudo, pudor. Esta é uma sociedade tradicionalista, com uma moral profundamente cristã, em que os valores da família se encontram extremamente presentes e condicionam todo o resto. Sobre isso, especificamente, escreverei num outro dia.


De uma primeira obra de alguém com excelentes cartas de recomendação espera-se muito. Longe da Terra Queimada é um filme correcto, tem um excelente argumento e a direcção do luxuoso elenco até surpreende. Falta-lhe apenas alguma daquela irreverência que gera a magia das grandes obras.


O crepitar violento duma grande roulotte em chamas, no meio da vegetação seca de uma planície, é o começo deste primeiro filme de Guillermo Arriaga, o argumentista da já “quase-obra-de-culto” de Alejandro González Iñárritu, Amor Cão, além das outras duas 21 Gramas e Babel, deste mesmo realizador mexicano.
Guillermo escolhe uma pequena cidade do deserto americano do Novo México como palco do drama primeiro que envolve Gina (Kim Basinger), casada e mãe de 4 filhos, que se apaixona e mantém uma relação extraconjugal com Nick (Joaquim de Almeida), também casado e pai de dois filhos adolescentes.
Este envolvimento caracteriza-se mais pela secura da culpa de Gina, que o vive com um permanente nó na garganta, que pelo romantismo. Sobretudo quando é descoberta por Mariana (Jennifer Lawrence), a perspicaz filha adolescente.
A partir daí, desencadeiam-se os acontecimentos trágicos que culminam em violentas chamas, a morte de Gina e do amante na roulotte onde, numa última tarde juntos, exploravam o segredo da sua intimidade.
As chamas desse incêndio não se extinguem naquela tarde trágica e plantam-se na alma de Mariana que, anos mais tarde, com uma nova identidade — Sylvia (interpretada agora por Charlize Theron)— delas foge e as ameniza ad continuum com uma chuva inconsequente de amantes, no contraste de Portland, aqui uma cidade fria e cinzenta, banhada pelas nuvens e por um mar violento.
Contudo, algo mais importante que as chamas ficou para trás.
Após a morte dos amantes, o filho mais velho de Nick, ao descobrir Mariana, apaixona-se por ela e procura-a. Os dois começam então um envolvimento bonito e puro, que contrasta com o sofrimento culpado da pecaminosa relação dos seus pais.
Ao ser descoberto pelas respectivas famílias, o seu romance torna-se também um amor proibido e perseguido e, neste dramático contexto, é concebida e nasce uma filha, Maria, que, com dois dias de vida, é abandonada pela mãe…
Em Longe da Terra Queimada (The Burning Plain), Guillermo Arriaga explora, numa metáfora, as vidas simples — as planícies — e os dramas que as devastam — os incêndios. A narrativa desenrola-se em histórias e personagens que se cruzam no espaço e no tempo, como nas obras de Alejandro González Iñárritu, ao estilo de Pulp Fiction. A imagem do incêndio (a acção) e da planície (o palco, o cenário) percorre o filme na maneira e no esforço nítido que Guillermo faz para abordar, com a câmera, todo o enquadramento na enorme presença e cuidada importância dos panos de fundo de cada cena.
O argumento é, naturalmente, um dos pontos fortes do filme. Para além dele, Guillermo oferece-nos personagens bem construídos, auxiliados pela sempre presente lógica do contraste, patente sobretudo no duo Gina e Nick (quarentões feridos pela vida em que até a intimidade se revela um acto dramático, sofrido e pleno de culpa. Sem saberem como lidar com uma situação errada, a vão vivendo em esforço, como Nick afirma a dada altura: “não sei se isto está certo mas... é real”) versus o par Mariana e Santiago, que vivem a candura do romance adolescente.
No caso de Gina, o bom desempenho e caracterização de Kim Basinger formaliza a enorme nota de culpa de uma mãe de quatro filhos, vencedora de um cancro que a mutilou e que, ao ver de perto a morte, fica condenada a viver cada dia como o último, sendo empurrada por isto para a relação com Nick, medianamente interpretado por Joaquim de Almeida.
O inocente amor entre os dois adolescentes contrasta com este dramatismo. O espectador é testemunha das etapas da sua construção no ecrã: Santiago e Mariana caçam pássaros, à fisga, e cozinham-nos num ritual pleno de simbolismo. Num delicioso pas de deux, criam cumplicidades. Fazem pactos de amor em que marcam a pele com o fogo. Embevecem-se tranquilamente. Em suma, namoram.
E têm o seu trágico momento “Romeu e Julieta” quando o amor dos dois se torna proibido, até à sua interrupção, que marca a metamorfose de Mariana em Sylvia (o que origina a segunda parte do filme).
Apoiado no seu excelente argumento, por um naipe de actores de peso, por uma boa fotografia e, sobretudo, por uma sonoplastia soberba (o estalar das chamas da roulotte a arder disputa, com as imagens das mesmas, a permanência na nossa memória), ainda assim Guillermo Arriaga não conseguiu o feito de Alejandro González Iñárritu com Amor Cão, ou de outros autores mexicanos, como Robert Rodriguez com El Mariachi: uma primeira grande obra.
É um filme correcto, bem elaborado, em que até por vezes somos surpreendidos por uma direcção de actores (actrizes, sobretudo) que nos mostra uma Kim Basinger e uma Charlize Theron para nós desconhecidas.
Contudo, apesar das situações de alguma irreverência, sente-se a falta da mesma. Aquela que gera a magia das grandes obras.

sábado, 3 de julho de 2010

robinhos


Ali ao lado, na tv, está a dar o resumo do jogo do Brasil-Holanda, e o Robinho acaba de marcar. Na altura, em directo, toda a gente pensou: é o destino que se concretiza, o do Brasil chegar ao hepta...

Andei ocupado por estes dias, e queria ter escrito isto antes, porque aí, ia brilhar... é que esta coisa de antever transmite algo assim de aura mágica de bruxo de luxo a quem publica, como por exemplo nas linhas em que denunciava o enorme disparate que tinha sido colocar alguém com problemas sérios consigo próprio como seleccionador nacional. Como no primeiro post sobre este triste assunto e no segundo, no terceiro, e agora, neste último. Perdermos cedo porque só percebemos, quer dizer, perceberam, tarde. E há quem ande a culpar o Cristiano (toda a gente, na verdade, e isso é triste).
Como antes afirmei, esqueçam os jogadores quando se trata de responsabilidades nestes assuntos. Eles fazem apenas o que lhes pedem e, ao Ronaldo e a todos os outros, pediram-lhes disparates. O senhor pode ser um excelente engenheiro, mas se o obrigarem a fazer balancetes ou a engendrar a contabilidade analítica da sua empresa... ela pode ir à falência. E depois dizem que é mau profissional? Foi o que aconteceu. Eles bem avisaram... o Deco, por exemplo...

Mas enfim, voltemos ao Robinho e ao Brasil.
Esta história do Brasil faz-me lembrar o Hitler e o Hitler faz-me lembrar o Estaline. Quando o do bigode pequenino invadiu o país do do bigode grande, na verdade o do bigode grande não se preocupou muito... e porquê? Já nos anos 40 a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas tinha uma população de centenas de milhões de habitantes, e o senhor do bigode grande sabia que o do bigode pequenino não conseguiria fabricar tantas balas como quantas pessoas houvesse na tundra.
Tão simples como isso.
Zukov mandava, por exemplo, vagas humanas em Estalinegrado contra as metralhadoras das SS com o secreto propósito de esgotar os paióis de munições alemãs.
E quando um general alemão perguntou a um embaixador suíço que, se invadisse o país com uma divisão de um milhão de homens, o que faria ele com um exército de quinhentos mil? Ao que o embaixador calmamente respondeu que os quinhentos mil apenas teriam que disparar, certeiro, duas vezes.
A Suíça nunca foi invadida.

Hitler e Estaline, já lá voltamos de novo...Robinho e Brasil, onde andam eles? Pois... eu sou assim, perco-me na paisagem.
Já viram algum jogo do campeonato Paulista, ou de outros daquele país? O que não faltam lá são robinhos. Aliás, um dos produtos de maior exportação do Brasil são os robinhos, que vêm de todas as raças e cores. Todo o clube de prestígio, em todo o mundo, tem de ter um ou mais robinhos, a falar português com açúcar. E agora até as selecções nacionais, como a nossa, têm robinhos, devida e burocraticamente nacionalizados.
Assim como ziliões de mujiques o Estaline tinha para gastar contra as MGs alemãs, o Brasil tem robinhos para colocar à frente das balizas adversárias. Na verdade, é só um país com 190 milhões de habitantes em que o futebol é quase uma religião e em que muitos preferem-no a sexo. E os brasileiros gostam muito, mas mesmo muito, de sexo...
Sendo assim, como se percebe que o Brasil, país com 190 milhões de loucos por futebol, tenha perdido com a selecção de um país com apenas dezasseis milhões e meio, em que metade, apesar da quantidade de campos relvados que vemos numa viagem de comboio pelas planícies holandesas, nem liga ao jogo?
Não é lógico, pois não? Porque se a lógica estivesse aqui metida, e fazendo comparações com auxílio duma matemática rudimentar, por exemplo, comparando com Portugal, que tem apenas 10 milhões e que a custo arranja uma selecção, o Brasil poderia ter dezanove selecções... e dentro delas, todas de luxo, escolheria uma super-hiper-ultra-mega-maxi... nec plus ultra selecção... que, ano após ano, venceria calmamente o Campeonato do Mundo, cujo único nobre propósito seria o de escolher o segundo lugar, como afirma o meu amigo Luís, ao acompanhar o meu raciocínio...

É que o futebol, como a vida, não se rege pela lógica, mas sim pela emoção, pelas circunstâncias, pela chuva, por isto e por aquilo. E é por isso que gostamos dele. Na verdade, se pensarmos bem, nada é por acaso. Como afirmava um sociólogo e pedagogo, se as crianças tivessem o tamanho de adultos, destruiriam o mundo. Se o Brasil fosse governado por alemães, seres lógicos e organizados, provavelmente ganhariam todos os campeonatos do mundo. E pior, talvez até o invadissem...

O futebol é fascinante, como todo o resto daquilo que vivemos...

Schiuu... ali ao lado, na tv, os holandeses já estão à frente do marcador.
O Estaline ganhou, com a força dos números.
Felizmente, o Dunga... não.

QUANDO, NA BANDEIRA DO BRASIL, LEIO "ORDEM E PROGRESSO", UI!...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Fraude, fraude, fraude...


Está frio. Como em Janeiro.
Isto não é África. Porque essa é quente. Quente e pobre, ainda. Esta é uma África de mentira, rica, de arranha-céus. Rica e fria.
E eu? Também de mentira, mas serei frio... e pobre...
Como vim aqui parar? Como? Um dia irão descobrir... Mas, por vezes, até eu acredito. Como quando nos banhos de arraia aos choros e risos. Como quando as multidões me olham como se eu fosse realmente importante. Como quando quando me disputam autógrafos, aos encontrões. Como quando quando me dizem que sou importante (ao ouvi-los, evito os olhares de piedosa autosugestão, pois temo que os seus olhos suspeitem).
Como quando devo ser realmente importante: porque me pagam de todas as maneiras para isso...
Mas já não consigo. Não sou eu que o digo, mas... aqueles olhares de soslaio... os murmúrios... E agora o brasileiro! Bem, pelo menos agora já sei. Se ele o diz é porque quase todos o pensam. Quase todos... porque, para pensar...
Mas eles já sabem. Estes pelo menos.
Na verdade, nunca o consegui, mas eles querem tanto acreditar...
Pelo menos agora já sei. Que não gostam, mesmo, mesmo, de mim. Eu bem tento, mas é uma coisa minha... Eu bem tento... Vocês viram? Eu, a defendê-los? Quando, firme, reclamei o direito dos meus (queria tanto que fossem...meus... porque têm eles que crescer?) entrarem em campo com as fitinhas do Senhor do Bonfim, com os cordelinhos no pulso?
Assim talvez eles gostassem de mim... E não se zangassem em segredos e murmúrios. Nenhum me apoiou quando acusei a FIFA de ter favorecido o Drogba, com a fitinha dele... até andam abraçados. São todos da mesma laia...
Como os convenço? Como os convenço que sou eu que tenho razão? Tenho de os lesionar a todos?
Com os miúdos era mais fácil. Eram umas esponjas. E eu, um deus!... Fui tão feliz... Porque têm eles que crescer?
Li algo que me tirou o sono durante duas noites. Estava assim escrito: Uma orquestra de executantes medíocres, com um bom maestro, produz uma sinfonia decente, mas uma orquestra de virtuosos, com um mau maestro, é incapaz.
Houve outra, que comparava os jogadores da Selecção a armas bem calibradas e certeiras e, a mim... um atirador com péssima pontaria...
Querem ganhar, ser campeões e esses disparates todos. Não sabem que o que é realmente importante é... eu ter razão? Ainda acreditei que seria possível convencê-los. No Real e nos outros... isso era passado... e aqui tinha outra oportunidade, mas...
Eu bem tento... Como vim aqui parar?
Quiseram-me aqui. Que bom. Se calhar sabiam que eu tinha razão. E agora? Já não a tenho porquê? É a mesma...

segunda-feira, 23 de março de 2009

Inimigo


É inevitável. Quando se fala em pedófilos ou criminosos sexuais, quem debate ultrapassa a condenação e vai logo direito à pena: as invariáveis castração ou morte dolorosa, daquelas que duram horas de insuperável sofrimento.
O surpreendente é que, nestas situações, quem julga e condena não poderia ser mais manso: Mulheres e homens dóceis, de excelente coração, gente que a própria violência que manifesta nestas ocasiões a horroriza a um nível insuportável. Os que desviam a cara a qualquer situação de horror ou sofrimento, os que não suportam ver um animal faminto ou atropelado, uma criança com fome, alguém em agonia…
São os primeiros a declarar o inferno. O empalamento, esquartejamento, o esfolar em vida…
Como é possível?
O fenómeno, compreendido, tem sido usado por generais e ditadores ao longo dos séculos.
Recordo-me de uma cena de ‘’O homem que queria ser rei’’ com o Sean Connery e o Michael Caine, em que o chefe duma aldeia caracterizava os habitantes da aldeia inimiga como animais cruéis que matavam, violavam… e urinavam na parte de cima do rio quando os seus aldeões se banhavam…
Trata-se da desumanização do inimigo.
Quando nasce um oponente, no horizonte de alguém, existe uma barreira a ser quebrada. Somos todos Sapiens. São maiores as semelhanças que nos unem que as diferenças que nos separam, e todos possuímos um sistema moral que privilegia a alimentação do factor gregário, ele mesmo dependente da simpatia, empatia, compaixão e outros valores que reforçam as semelhanças entre nós. Necessitamos disso para viver em sociedade.
Assim, os factores imprescindíveis para uma boa relação social são os primeiros alvos a abater numa situação de conflito.
Como, num estado de sanidade mental, não nos conseguimos agredir a nós próprios, também não é fácil conseguir que nos tornamos agressores de outrem que partilhe as nossas características. Alguém parecido connosco. Portanto, o que é necessário , para manter ou alimentar um conflito, é fazer crer que o inimigo é mesmo diferente de nós. O Mais possível.
Mas na verdade, ele não o é.
E não é fácil desmentir evidências. É aí que entra em campo a propaganda, a desinformação, a calúnia organizada.
Muitos se lembrarão dos cartazes de propaganda da II Guerra Mundial. Os judeus eram representados pelos alemães como criaturas diabólicas, nosferatus corcundas de nariz adunco e olhar maligno cujas sombras rivalizavam com a própria escuridão. O olhar dos japoneses, nos cartazes americanos, esse, era indefinido, oculto pelo rasgo das pálpebras, coberto ainda pelas grossas lentes dos óculos redondos: ausência de olhar é ausência de alma. Os dentes incisivos afiados ameaçavam a fatia do Pacífico, Índico e a costa da Califórnia…
Há quem diga que a Caricatura nos jornais teve o seu incremento com a emergência dos conflitos em que o inimigo era representado por animais ferozes e o amigo, ou vítima, pelos animais mais simpáticos da criação.
A recente polémica detonada por uma caricatura em que é representado, no New York Times, um chimpanzé, com alusão aos planos económicos do executivo de Obama recorda bem as raízes bélicas da Caricatura.
Contudo, não é necessário o esforço de desumanizar pedófilos, violadores ou serial killers, eles, por si, tornam-se diferentes para todos nós. São animais a abater.
Mas não. Não são.
São apenas seres humanos doentes. Como com os ‘’lunáticos’’ ou as ‘’histéricas’’ no século dezanove, a sociedade do emergente século vinte e um ainda não está preparada para lidar com eles de outra forma que não violenta.

terça-feira, 10 de março de 2009

notre dame

''Se vocês não nos tratassem mal, não seria necessária a existência dum Dia Internacional da Mulher''

''Cada uma de nós deveria matar três homens. Seria uma excelente maneira maneira de comemorar o dia''

''Os homens não se apaixonam. APIxonam-se''

Achei graça a todas, por isso as publico, mas a do meio é uma impossiblidade matemática...

terça-feira, 3 de março de 2009

O dia da verdade

O brilho da sedas das gravatas Hermés não lhes define o padrão no ecrã das Internacionais RTP ou SIC, que por aqui me dão notícia do que se passa em terra lusa. De resto, tudo brilha em Portugal quando colado ao corpo de alguém. Assisto, ao longo dos telejornais, ao desfilar de gente que bem poderia ter abastecido o seu guarda-roupa na Rodeo Drive ou na 5ª Avenida.
Quem não for português e assistir a um noticiário televisivo ou a um qualquer programa onde apareçam pessoas, adivinha prosperidade pelo cuidadoso e rico atavio das gentes e por todo o luxo que as envolve. Roupa de marca, impecavelmente tratada, as ruas repletas de reluzentes topos-de-gama, interiores design, iniciativas de milhões, flashes, abundância luminosa e colorida... Dir-se-ia um país produtor de petróleo, diamantes, plutónio, platina... Ou tecnologia de topo: automóveis, aviões, megaestruturas. Enfim, qualquer coisa, ou coisas, que fornecessem a quantidade necessária de dinheiro que pague tanto luxo.
Lisboa é uma cidade rica na sua aparência. Centros comerciais gigantescos, prédios moderníssimos. E tudo começa no aeroporto, cintilante. Seguem-se as ruas pejadas de carros ou motas de luxo, tudo conduzido por gente com um aspecto milionário.
Outras capitais europeias não exibem tamanha prosperidade. Lembro-me, há poucos anos, do parque automóvel espanhol quando Espanha era a nona economia mundial: velho e remediado.
Ou do aeroporto de Heathrow: uma possível segmentada estação de metro. Ou do poeirento JFK, com taipais a abanar. E, antes da crise, eram estas as economias fortes.
Quando miúdo, as riquezas do meu país eram o vinho, o azeite, a cortiça. Era o que se encontrava registado nos livros escolares. Mais tarde juntaram-se-lhe os textéis, o calçado, o turismo.
Tudo isto agora não vale nada. O vinho português mergulhou num mercado saturado por países que descobriram como é fácil gerar o néctar a partir de castas. Chile, Argentina, África do Sul, Estados Unidos... todos concorrem pelo ouro nas feiras internacionais.
O azeite disputa o mercado com gregos, espanhóis e sobretudo italianos. Todos com fortíssimas estratégias de marketing viradas para a exportação. Até a azeitona é vendida com cuidadosa apresentação e processamento de tempero.
A cortiça ainda vai saindo, mas...
Os textéis e o calçado estão como sabemos e o turismo encontra-se em quebra. Vendemos praias de água fria mais caras que as outras.
Uma possível indústria era o mobiliário, mas não se apostou no design...
Outra fonte de rendimento era o próprio consumo. Portugal era um país com milhão e meio de funcionários do Estado. Passou a um milhão. Como é improvável que se siga o destino da Islândia, pelo menos esse milhão assegura algumas lojas abertas. Mas nada que justifique tamanha abundância.
De onde vem então o dinheiro para tanto luxo? É a pergunta que a mim próprio faço ao olhar para a imensidão de mármore da Sede da Caixa Geral dos Depósitos.
Não sei. Mas sei que o dinheiro que por aí andava nos ecrãs dos computadores dos bancos era de mentira. E julgo que era ele, e não aquele dos rolos de notas, que pagava isto tudo.
Como todas as fraudes, esta também foi descoberta.
Mas parece-me que em Portugal ainda não se sabe disso.
É uma sensação bem desagradável tentar imaginar o dia da verdade.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A Outra


Todas as terras possuem o seu maravilhoso mundo das pessoas que é algo que se disfruta no começo do contacto com as mesmas. Quem chega a Portugal, inquirido sobre o seu grau de satisfação no âmbito, responde de olhos muito abertos com muito agrado. Os portugueses, eles mesmos, bocejam se questionados sobre a maravilha de país que possuem. Eu adoro o lugar onde nasci, Lisboa, mas neste momento não se manifesta em mim algum tipo de saudade do mesmo.
Na verdade, pode parecer idiota, mas sendo alguém que necessita de espaço para explodir em coisas, acho que aqui encontrei o meu. Isto é realmente muito grande. Para ir a uma praia fazem-se duzentos quilómeros numa tarde, ir e vir. Nas calmas. É como ir aí à costa da Caparica... hum...demora-se menos, talvez, de carro.
Leio que ''O Sol'', que sempre considerei um projecto idiota, com um logotipo infantil em conformidade, está a passar por sérias dificuldades. Com o maior respeito por todos os profissionais que sustentam a publicação, a notícia para mim não o é. Quem me lê por aqui sabe que adivinho o futuro de muita coisa.
Como previ tudo o que ia e se que se está a passar, não posso mentir se afirmar que foi com agrado que recebi o convite de participar num projecto com a periodicidade e formato do ''Sol'', porque sabia que aqui seria um sucesso. E está a ser. O break even vais ser atingido muito rapidamente, num prazo recorde em padrões globais. Apesar de muita coisa.
Encontrei-me esta semana com um ilustre jornalista e blogger português, mesmo lá na Casa Amarela, e respondi-lhe que adorava trabalhar assim, com toda a paixão que por aqui acontece. Cada matéria é seguida como um jogo de futebol, com emoção e de forma bem divertida, contrastando com a forma bocejante como se publica em Portugal. Adoro trabalhar com angolanos, e sei que embora me encontre por cá em tão curto tempo, me sentem como um.
E o mesmo acontece em sociedade. Embora possua pele clara, não me sinto, de todo, alienígena por aqui.
Contudo, os costumes não são os meus.
São muito diferentes dos que existem em Portugal.
Por aqui vêm-se raparigas de treze ou catorze anos, na rua, com soutiens tipo wonderbra, bem recheados que dão beijinhos aéreos a homens de quarenta anos. Alguns aproveitam.
Outra coisa que acontece, talvez até o maior fenómeno social, é a poligamia, algo semi-marginal mas uma realidade, contudo. Um homem pode ter várias mulheres, cada uma com a sua respectiva prole. Começa tudo com umas ''cambalhotas'', mas acaba com uma família ''fora''. Causas? O planeamento familiar que quase não existe, entre outros factores... Um deles, bem engraçado e interessante, é o Dia do Homem, a sexta feira, pela noite, em que os machos saem em bandos de amigos para curtir a vida.
As mulheres de ''fora'' de casa são cantadas nesta música do Matias Damásio. Acho um extremo requinte uma realidade feminina ser cantada por um homem, sobretudo numa terra tão machista. Julgo que vão gostar. Tanto que provavelmente terá tanto sucesso por aí como por aqui. A orquestração é excelente e outros artistas angolanos ''pop'' como a Ary e a Yola Semedo podem ser apreciados também no YouTube.
Quando a música começou por aqui adivinhei-lhe o sucesso. Como o adivinho aí.

Um grande abraço amigo, ya?

MATIAS DAMÁSIO, NA FOTO

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

eis


Eis a capa do segundo número, já corrigido. Foi feita após uma falha de energia causada por uma avaria do gerador. Ninguém queria acreditar. Faltavam duas páginas para acabar o caderno a enviar para a gráfica e tive que tratar de questões como manutenção, quadros eléctricos e correias de refrigeração, durante duas horas. Após estabelecer um acordo com uma firma de manutenção dos geradores das duas casas, ali no meio da rua, lá respirei fundo e fiz a capa. No dia a seguir, a TPA entrevistou-me e uma das perguntas foi sobre as infra-estruturas, como elas afectavam o meu trabalho. Respondi que era pela falta delas que eu e outros estamos cá, para as criar. O design é a minha última preocupação, durante um dia de trabalho. O mesmo é passado a resolver problemas técnicos e humanos. A esboçar as tais infra-estruturas.
Um dia Angola será um país próspero e urbano. Sorrirei sabendo que algo se deveu a mim.
A ultima página do primeiro número. Enfim, lá estou eu, bem atrás, encostado à cerca. Não encontrei lugar à frente. Utilizo muito a expressão ''ficar na fotografia'', que aqui se justifica plenamente. Raros são os que se encontram em primeiro plano que participaram activamente, à excepção do director, que com esforço lá arranjou um lugar.
Acompanha-me o meu craque, o Raul, um gigante de vinte e sete anos que nasceu para o design. Se carregarem na imagem ela aparece aumentada.
No fundo da página encontra-se o Zero. Os gatos aqui são malditos, conotados com a feitiçaria.
Encontrava-me eu no meu gabinete e ouvi miar. O Pitigrili entrou ou e disse que estava lá fora um gato a chamar por mim. Desci e após alguns minutos a redacção ficou estupefacta ao ver-me entrar com um gatinho da rua ao colo. Desde esse dia ele segue-me como um cão. Se saio, ele vem a correr, saltando à minha volta até eu pegar na mota e sair. Quando se porta mal é ''o teu gato'' ...''tu é que és o pai dele''. Quando se porta bem é ''o nosso Zero''... É super meiguinho.
Quem assina o texto de opinião é o editor de política, o meu grande José Kaliengue. Eu, ele e o director formámos um trio imbatível naqueles dias sofridos. Mas temos o semanário de referência que nos foi pedido... feito com sofrimento mas também com muita alegria.
Trabalho com homens extrardinários.

domingo, 16 de novembro de 2008

Magno.

Perguntaram-me, por estes dias, como eu sentia, encontrando-me na minha pele. Na pele de alguém decisivo ao lançar ao mundo um jornal que em semanas, após ajustes, decerto se tornará num dos melhores de língua portuguesa e num dos mais agradáveis de folhear do mundo, mesmo para as sensibilidades mais sofisticadas. Faziam-me essa pergunta de todas as formas, e de olhos muito abertos, sobretudo aqueles que acompanharam de perto todas as dificuldades que tive que ultrapassar, a todos os níveis, desde a falta de sistema informático devido a um incêndio até à falta de fotografias por desajuste com as agências noticiosas e outros factores. Todo o transporte de ficheiros entre computadores foi feito por pen drive. Não posso ver mais nenhuma à frente. Toda a arquitectura de rede por mim concebida foi inútil. Houve choro contido entre muitos. Em dois dias, dormi três horas e meia. Lutei contra o meu sono e exaustão, e ainda conseguia moralizar trinta pessoas, muitas por mim fisicamente levadas para dentro do edifício quase vencidas pelo pesadelo de fazer algo extremamente complexo de forma primitiva.
Geri o caos. Sabem como se sente alguém que gere o caos?
Mas não estive só. Acompanhavam-me homens e mulheres do melhor que já conheci, porque, após algo assim, a magnitude que nos invade, que é a resposta à pergunta de qual é a sensação, não mais nos larga.
É um sentimento só comparável ao duma vitória em épica batalha. Olhamos para quem nos ombreia de uma forma nobre. Foi uma honra travar este combate, lado-a-lado, com tão ilustres jornalistas, quer angolanos, quer portugueses. E demais profissionais. Foi lindo, ver a minha equipa a corresponder de forma tão eficaz, a tão difícil e cruel demanada. Treinei-os bem. No dia seguinte todos nos abraçávamos, ao ver o jornal sair da rotativa. Ninguém se lembrava que se encontravam presentes dois ministros...

O desafio era grande. Fazer por aqui algo equivalente ao ''expresso''. Diz quem me conhece que parecia que tudo na minha vida se conjugara para o abraçar. Apesar de tudo, de não existir um número zero para ter a oportunidade de limpar os vários pormenores menos bons que aconteceram. Os meus objectivos foram cumpridos. Sinto que fui responsável por algo sublime, e que a minha fibra foi determinante para dar todo o apoio a homens e à máquina. E o jornal, está lindo.
Fiz história. Já me encontro nela. Como me posso sentir, então?

Um grande abraço a todos e obrigado por toda a energia.

domingo, 19 de outubro de 2008

aproveitem para esticar as pernas...

...ou fumar um cigarrinho.

Durante uns tempos preciso deste gajo. Por isso, o gajo durante uns tempos não bloga. Sorry, blogocoisa, amigas e amigos que recheiam a mesma. Quando voltar, será para lhe darem os parabéns. Isto, porque a magnitude daquilo onde o gajo se encontra metido é algo do além... Termos de comparação? Ok: julgo que em Portugal a última vez que se fez... foi a mesmo a última. Aqui é a primeira. E sou eu que a faço! Uauuu!!!
Sou capaz, mas as vossas energias positivas e o vosso afecto serão benvindos. Quando a obra se encontrar concluída, tudo o que contribuiu para a mesma pode reclamar um orgulhoso pedaço.

love you all

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

detesto MESMO ter razão

Portugal é o país da Europa onde mais se trabalha e menos se produz. Sabem porquê? Porque se desconhece o segredo do trabalho em equipa. Em Portugal não se trabalha em equipa, trabalha-se em turba. E sabem porquê? Porque se desconhece o segredo da liderança. E sabem qual é? Liderar é a capacidade de transformar a visão em realidade.
Scolari referia-se aos jogadores da selecção, dum país que não era o dele, como... ''os meus meninos''. Como eu o compreendo...
Era um líder.
Contaram-me aqui que quando o Cristiano Ronaldo se referiu ao seu treinador, disse algo do género...''aqui o Carlos...''
Acho que isto explica tudo.

O país está uma merda. E sabem porquê? Porque quem o supostamente lidera não tem um objectivo à dimensão de um povo. Não procura a grandeza. Procura apenas reduzir o défice. É esse o mísero objectivo de José Sócrates. E para o cumprir, ataca um povo que não produz riqueza, metendo a mão no bolso do mesmo tirando-lhe o pouco que tem, quando o seu primordial objectivo deveria ser gerar situações criadoras de riqueza, para depois a colher...
Ouvi alguém afirmar que Portugal poderia estar ali a noite toda e nunca marcaria um golo. Eu também acho, só que não se trata da noite toda, trata-se de gerações inteiras, ad continuum, a tentar marcar um golo.
Com líderes destes, nunca o conseguirão. Scolari não era um melhor técnico, era apenas um melhor homem. Ou pelo menos era isso que transmitia...pois seguiam-no. Sócrates não é seguido, é apenas um mal menor. Será que é isto que merecemos?
Num país sem um projecto, a arrastar-se miserávelmente na cauda de tudo, havia porém algo que ainda lhe dava algum alento. Eram aqueles miúdos. A que alguém devia ter considerado entretanto como ''os seus meninos''. Mas isso não aconteceu.
Não chamem nomes aos rapazes, Não mencionem os seus ordenados milionários. O futebol é um desporto de equipa. E uma equipa tem de ter alguém que a lidere. Que a faça acreditar. Que a informe inequivocamente que é melhor que as outras.

Estou a pensar seriamente em depositar os meus ganhos em qualquer outro sítio que não Portugal, lugar tornado miserável. Lamento que isto vos possa soar demasiado violento, mas para quem realmente o vê de fora... é o que sente.

Detesto MESMO ter razão.

CARREGAR NOS LINKS DA LINHA DE CIMA
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terça-feira, 14 de outubro de 2008

express yourself

Num certo dia a professora chega e pede ao Joãozinho:
- Joãozinho, diga-me um verso em rima!
- Hum... a Madonna é uma cantora que tem pintelhos na c*na. A professora muito indignada repreende-o dizendo:
- JOÃZINHO ISSO NÃO SE DIZ!!
- Pronto stôra! A madonna é uma cantora que tem pintelhos na ameixa
- Joãozinho, isso não rima!
- Ok stôra, então é assim: a Madonna, é uma cantora que tem, pintelhos na ameixa, mas eu não digo c*na, porque a professora não deixa.

domingo, 12 de outubro de 2008

cano dá cana

Uns gajos em Nova Iorque andavam na marosca a roubar fémures, substituindo-os por canos.
Foram de cana...
Do processo mediático despoletado por este acontecimento retive o seguinte: Um corpo humano, vendido em partes, vale tanto como um apartamento no centro de Lisboa.

sábado, 11 de outubro de 2008

sul

Acordo para mais uma sexta-feira. As cortinas do quarto cumprem: ao esbater a claridade, falam dum dia menos luminoso que o que encontro mal as afasto... mentem, porque quero. Ainda meio a dormir, visto uns calções, calço uns nike e vou por aí a desenrolar os phones schnneizer que irão bombar Daft Punk na minha corrente sanguínea e dar o ritmo à minha corrida em Talatona, um futuro Tagus Park daqui, só que umas vinte vezes maior...
Chego a casa trinta encharcados minutos depois e faço quarenta flexões no meu quarto. Lembro-me do Covey: ''Se não conseguires fazer as tuas cinquenta flexões não conseguirás que a tua equipa faça as suas vinte''. No problem, Covey, faço as que quiseres e a minha equipa segue-me até ao inferno, a encher, com um sorriso nos lábios.
E é esse o desempenho da mesma durante mais um dia de trabalho.
Um deles, no princípio, perguntou-me se seria possível irem a Lisboa ter um período de formação, o que no caso dele queria dizer... ver gajas. Respondi-lhe, metálico, que comigo iria ter a melhor formação, com um nível que nunca encontraria em Lisboa. Agora eles próprios recordam a conversa, gratos. Deixa estar, Gajas, há-as por cá. Mas eu não lhes ligo nenhuma, por enquanto. A minha missão é prioritária. Sinto-me como um monje guerreiro. E ficou lá alguém que me espera. Eu continuo também eu à espera, embora me veja por aqui durante muito tempo.

Estou farto de ser europeu.
Uma condição que ganhou um novo significado, para mim.
Um ser urbano, decerto. Culto, sem dúvida. Mas alguém a quem retiraram a natureza. A única que lhe resta é a sua, na qual chafurda. Um ser sem árvores, planícies, bandos de patos selvagens. Resta-lhe apenas o prado seco da sua alma. O meu weblog é disso exemplo...
teria Hegel vivido dias tão intensos como estes meus de agora?

Só a viagem de mota até à Casa me secou a transpiração que mapeava a camisa. Nem o banho, nem o ar condicionado conseguiram travar o suor que a minha corrida me soltou dos poros.
Todos chegam de jipe. Eu chego todos os dias ao trabalho de peito aberto e cabelos colados. Pelo vento.

Sou o último a sair, a uma sexta-feira...Muito trabalho, pois. Sou interrompido, no fim do dia, por dois gajos que entram por ali, no andar de baixo, um deles é o guarda, de kalash carcomida a tiracolo. O outro vem lá procurar trabalho e sente-se aborrecido por ninguém estar lá para o receber ou algo do género, a exibir mau feitio. Com um sorriso amarelo continuo o meu trabalho, até ser interrompido de novo. Desço, sem sorriso algum, com ar de levar gajos e kalashnikovs, tudo à frente. ''Era só para dizer que o assunto está resolvido, chefe. Tudo fixe...''.
Saio. Às seis da tarde em Luanda é Noite. E já passaram duas horas. Está um calor magnífico, esbatido pelo vento que me molha a cara durante a viagem de mota até casa, onde chego, e saio, sessenta minutos depois. Ainda tenho tempo para manter uma conversa com uma amiga especial e dar-me conta no reader pelos títulos dos blogs que longe, muito, muito longe existem gripes e outonos e crises e o raio que parta isso tudo... Caramba, um gajo para se deprimir tem de ir à Europa...aqui é impossível!

Chego à Ilha dos contrastes, a Ilha de Luanda. Topos-de-gama passam numa estrada esburacada, separada por blocos de betão cravados pelo vértice inferior e assim assentes, oferecendo os outros cinco aos pneus que os rasam... Uma voz feminina dentro do carro fala dos professores de ginástica soviéticos enquanto um jipe Lincoln Navigator gigantesco esmaga a estrada que ficou para trás. Putos saem disparados de cruzamentos com as scooters em cavalinho. Estaciona-se o carro num local impensável em Lisboa, onde cabem menos. Aqui o pessoal adapta-se a tudo, e os carros ajeitam-se aos espaços diminutos.
Está muito calor. Mas bom.
O longo estrado de madeira do Chillout, assente na idílica praia, funciona como um espectáculo ao contrário: encontramo-nos no palco e a acção encontra-se à frente, no Oceano repleto de navios em fila interminável. Nunca se viu nada assim. Ficam ali dois meses, cada um, à espera da sua vez de entrar no porto. Um outro está na calha para ser construído, e aquela fila será uma longínqua lembrança. Mais uns quatro anos e Angola fará o mesmo que todos os países anteriormente roubados pelo ocidente estão agora a fazer: a comprá-lo aos pedaços...
São países como este que, mal ou bem, representam o futuro do planeta, agora falido pela lógica da gravata que dos pescoços passou para a economia... A verdade vem sempre ao de cima, e este dinheiro que andava por aí era mentira.

A minha amiga vai descrevendo as características das angolanas que estiveram na europa e as que são de cá, em maneira de exposição de manual de engate a quem chega. Eu sorrio, ele é muito mais bonita que qualquer uma delas, mas proibida. Todas o são, para mim. Não quero saber. Estou cá para trabalhar, gajas nunca me faltaram, nem em Lisboa nem em lado nenhum. Neste momento seria um problema a mais, em troca de momentos de prazer.
Tenho a sorte de poder escolher os meus problemas, vou continuar a gozá-la. É uma sorte impagável e magnífica, esta que vem no pack de renascimento, não vos passa pela cabeça...

Os gajos são uma tristeza. Escolhidos a dedo pelo seu aspecto medíocre de gringos barrigudos de rua de Bangcok.
Mas encontram-se pessoas elegantes. Angolanas sobretudo. É uma vergonha para os estrangeiros presentes, a sua elegância.
E a música é excelente... very becoming com todo o resto. O calor, os sorrisos, o ar livre... Angola é um país ao ar livre. Cheio de espaços convidativos a uma viagem.
Danço. Muito mesmo. Já não me lembrava de dançar assim. Ao observar quem comigo dança recordo-me dum pormenor: será que todos se apercebem que pela forma de dançar se vê como se fornica? Contenho-me um pouco, a sorrir... Vou desvendando segredos, ano após ano, desta poça que chamamos vida.
Todos bebem, menos eu, que mantenho a minha frescura e lucidez. Vou saboreando o calor, a beleza das mulheres, de bela cabeleira gigante que se esfuma em penugem escura, que dançam em contraluz. Olho para o céu estrelado e vejo constelações desconhecidas. Estarei noutro planeta?

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Praia

Pois. E protector solar, por aqui? Pode ser factor 8, que sou moreninho. Embora não tanto como a malta destas quietudes... : )

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Quero beber da tua água...

....Foi o que ouvi. Quem o proferiu foi um dos membros da minha equipa, quando estratégicamente, lhe indiquei o meu adjunto para lhe tirar uma dúvida.
Esta gente quer mesmo aprender.
Cada dia de formação é acompanhado por mim atentamente, enquanto preparo a minha, bem grande, parte da estrutura de um dos maiores órgãos de comunicação social do continete africano.
Intervenho em alturas-chave, quando sinto que existe uma quebra de ritmo devido ao cansaço, ou quando tenho realmente algo a acrescentar.
E estou mesmo satisfeito.
Peguei numa equipa que se encontrava impreparada, abandonada e desmotivada pelos sucessivos atrasos do projecto e consegui transmitir-lhes a minha garra, visão e aquilo que os líderes a brincar temem ceder: conhecimento. Quero que eles saibam tudo. Quero-os bons. E, dia-a-dia, sinto a melhoria. E o entusiasmo, esse, nem falar.
Encontro-me em África, sim. Mas... não se iludam, estive à frente de várias poules, e esta, técnicamente, não fica a dever muito a algumas daí. Mostraram logo qualidades. A grande diferença é que aqui as pessoas comportam-se como a vegetação: querem crescer.
Leio o drama que é ser professor e formador em Portugal... Que diferença... aqui, adultos frequentam aulas do preparatório, e os jovens que estudam vão à escola fazer aquilo que qualquer estudante deveria cumprir: aprender.
''Quero beber da tua água''... Esta é que é a verdadeira sede de conhecimento.
Soube-me bem ouvi-lo, claro, mas julgo que qualquer professor em Portugal ficaria com um sorriso bem maior que o meu...

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

domingo, 5 de outubro de 2008

almoço de domingo

Rocket-Caramba, este é o primeiro restaurante em que, no menu, leio a lagosta ao preço da picanha...
Pitigrili-A lagosta apanha-se já ali, a picanha apanha-se mais longe...

sábado, 4 de outubro de 2008

o meu almoço de sábado

Uma lagosta e três lavagantes.
Eram à descrição.
Vida dura, a dum expatriado...

indiana jr

Um casal descobre uma revista sado-masoquista escondida no quarto do filho. Diz a mãe:
- O que fazemos ao miúdo?
Resposta do pai:
- Pelos vistos não adianta bater-lhe...

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

zen?

Sou danado. Uma hora à espera para encher o depósito?
Não, se o puder evitar.
E gasto só o equivalente a dois euros e meio por tanque...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

a minha sala de reuniões

Antes de me sentar, sopro o pó vermelho, antes de pousar o bloco em cima da mesa branca. Quem se senta comigo faz o mesmo à cadeira que arrasta pelo chão encharcado pela chuva nocturna. Eu já o tinha feito... Estremecem o ar os camiões que passam a alguns metros da casa. Carregam toneladas de materiais para as que se controem no fundo da rua.
Por estes dias reuno-me com a minha equipa, e com quem virá, ou não, a fazer parte da mesma. Esqueço-me das palavras que me habitavam dantes, quando tratava de assuntos iguais, talvez porque atrás de com quem falo se erga uma jovem árvore que num breve dia dará mamões graças ao calor que não me incomoda. Agora só me lembro, a custo, de termos, como timeline e interface, coisas que se chamam a coisas que pretendo criar para colocar a andar tudo sobre rodas, em vez de agilizar o processo de produção... Isto faz-me lembrar que tenho que passar logo a seguir na Gráfica, para recolher provas da mais moderna máquina de impressão do continente... Sou interrompido pela brutal carga de decibéis do gerador que acorda, mas prefiro este rugir ao ganido das ups da sala ao lado da Arte a queixarem-se da contínua falta da voltagem que as faz felizes... E com os computadores a ligarem de desligarem continuamente numa dança automática do logotipo do Windows e de aparições de DOS branco em brilhante tela negra Hewlett-Packard. Mas não temo. Sei que no dia tudo estará afinado e sem falhas. É o que sempre sucede... Um pássaro canta, a poucos metros, uma melodia por mim desconhecida. Quem fala comigo sorri optimismo...
...É assim, uma sala de reuniões num país que passa, de bebé a adulto, em meses...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

!arghx!#@crrr!!/!?!@#grrr"%!!!

O meu vinha dentro da bagagem de cabine... ficou no controlo do aeroporto.
Tentem encontrar gel de cabelo num hipermercado em Luanda... Terroristas dum raio...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

horário de jogo

O futebol, em Portugal, é um jogo que se pratica
entre as oito da noite e as seis da manhã.
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domingo, 28 de setembro de 2008

zen

Sou impaciente. Não de natureza, mas de convicção. Mal chego, tenho que ser atendido. Por um motivo: porque tem de ser assim. Porque as coisas estão más, e é obrigatório servir melhor que o parceiro. E, servir melhor implica rapidez, eficácia, inovação... e surpresa. Certo?
Pois é. Tudo isto...mas na Europa.
Em África esperámos uma hora na bomba, para encher o Jinny de gasolina. E ontem à noite não havia... muitos dormiram no carro à espera...
Da próxima vez, em Portugal, que tiver que esperar mais que três minutos em qualquer lado, vou sorrir, em vez de exibir o tal ar rottweiler...

sábado, 27 de setembro de 2008

meus ricos gatinhos...

Isto foi apanhado a tentar entrar num condomínio, por aqui...

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O Futuro

Imaginem acordar num sítio onde a angústia mais que certa do dia seguinte é substituída pelo significado mais luminoso da palavra Futuro...
Bem, é onde eu tenho despertado, nos últimos dois dias.
Cheguei há três noites atrás, e é, de facto uma alegria que qualquer um consideraria indescritível, mas que é propósito deste texto descrever o melhor possível, a maravilhosa realidade de um país em que todo o tecido humano se conjuga para construir um futuro próspero, abundante e generoso a uma velocidade vertiginosa.
É uma sensação única, fugir dum lugar em que o desalento, desespero e o medo do dia de amanhã constituem o amargo tempero dos dias cinzentos e mergulhar na vertigem do optimismo de outro que encara o futuro com o mais radioso sorriso...

Não... não morri e não acordei no paraíso.

Encontro-me num país africano, com todas as suas características vicissitudes, e mal cheguei, nos primeiros minutos de trabalho, começaram a surgir os primeiros problemas a resolver, por aqui. Mas (e com que satisfação escrevo esta conjunção) por mim, tudo bem... melhor, tudo óptimo! Foi para isso que vim. Para fazer parte do conjunto de soluções que levarão Angola, talvez o país mais promissor do continente africano, a um patamar elevado entre todas as economias e sociedades deste planeta.
É único. Julgo que nunca senti nada igual. Disfrutar da emoção de saborear o verdadeiro significado das palavras esperança, optimismo e futuro... até me esqueço que escrevo num pc...

Embora um dos mais caros portáteis do mundo, este, o que me foi adjudicado...

sábado, 20 de setembro de 2008

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

patine

Não gostam da velhice?
Amo-a, vou morrer de saudades dela.
Quando tinha doze anos, em África, existiam coisas cuja falta me pesava: a chuva das noites de Natal na Baixa, colorida e iluminada, e o ruído dos autocarros verdes de dois andares ao passarem grandes e desajeitados no granito molhado.
Mas, sobretudo, morria de saudades da velhice das casas e paredes de Lisboa. Sonhava com o dia em que a iria afagar com os olhos...
Adoro velhos bairros, onde se entra em lojas perdidas no amarelo dos calendários, em que nada foi vendido e tudo por nós espera, protegido por uma fina farinha de anos... É assim, longe da música, que encontro a beleza do tempo.

A minha casa é velha.
Antiga? Não. É velha... mesmo.

É a casa dos meus sonhos.
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quinta-feira, 18 de setembro de 2008

gatos...

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Tenho um gato que gosta quase tanto disto......como o dono.

Ivan!... Pira-te!...

E lá vai ele com cara de I'll Be Back...Onze segundos depois reaparece e recomeça as tentativas de se apropriar daquele aconchego... Vence pela insistência e pelo humor da coisa, e conquista, repatanado, o seu novo e fofo sofá...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

a chama

A longínqua amizade é uma pequena, brilhante e sempre viva chama-piloto, alimentada pela saudade, até à hora de acender o imenso calor dos afectos.

style // charles bukowski

Style is the answer to everything.
Fresh way to approach a dull or dangerous day.
To do a dull thing with style is preferable to doing a dangerous thing without style.
To do a dangerous thing with style, is what I call art.
Bullfighting can be an art.
Boxing can be an art.
Loving can be an art.
Opening a can of sardines can be an art.
Not many have style.
Not many can keep style.
I have seen dogs with more style than men.
Although not many dogs have style.
Cats have it with abundance.

When Hemingway put his brains to the wall with a shotgun, that was style.
For sometimes people give you style.
Joan of Arc had style.
John the Baptist.
Jesus.
Socrates.
Caesar.
García Lorca.
I have met men in jail with style.
I have met more men in jail with style than men out of jail.
Style is a difference, a way of doing, a way of being done.
Six herons standing quietly in a pool of water, or you, walking
out of the bathroom without seeing me.
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domingo, 14 de setembro de 2008

coisas destas... acerca destas coisas

Hoje de manhã, na cozinha, enquanto espalhava manteiga no bagel : "hum, um donut com rigor mortis"...

Vou sentir a falta de ouvir coisas destas... acerca destas coisas...

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A Bela & O Monstro

Um gajo com dinheiro e uma gaja sem escrúpulos? Não... um homem com um carácter fascinante e uma mulher de uma sensibilidade extrema...

sábado, 13 de setembro de 2008

detesto ter razão

Existem assuntos em que não me agrada, de todo, ter razão.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

inteligência zero...

...é considerar uma guerra... santa.

the usual dinamic duo...

Numa noite de chuva, dois carros batem. Um de um advogado e outro de um médico. Ao sair do seu, o médico, preocupado, dirige-se ao do advogado e pergunta-lhe se está ferido, examina-o sumariamente e constata não haver nada de grave. Só então os dois passam a verificar o estado dos carros e como se deu a batida. Chegam à conclusão de que não havia como escapar do acidente: estrada molhada, escura e mal sinalizada. Como, todavia, o advogado já tinha ligado para a GNR, resolveram ficar à espera enquanto a viatura não chegava, para avisar os guardas que cada um ia assumir seus prejuízos. Conversa vai, conversa vem, o advogado vai ficando íntimo do médico e até lhe oferece uísque. O médico aceita, bebe três goles, bem longos, e pergunta:
- E você, amigo, não vai beber?

O advogado responde, com um sorriso:
- Só depois da polícia chegar.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

leis das coisas simples

A minha tentativa de contínua compreensão das leis das coisas simples dá nisto: há três meses que corto o meu próprio cabelo. Ninguém nota, e estou satisfeito. Atenção... devem existir poucos homens tão zelosos da sua imagem como eu.
Muito poucos, mesmo.

microhamburguer

Almôndega crua e um piparote.
Alcaparra, on top...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

a loucura

É maluco-e-dá-dentadas-nas-maminhas-das-criadas

Há semanas participei num acontecimento cultural bizarro. Uma... tertúlia. Numa galeria de arte, com mesas, cadeiras e copos, reuniram um músico de renome que iria apresentar àquela plateia o seu livro de crónicas, plus o artista plástico cujas obras se encontravam por lá expostas, e dois ou três intelectuais cuja função ali era a de apresentar cada um e a sua obra.
No meio da plateia para ali sentada existia ainda uma poetisa e mais alguns ilustres conhecidos e desconhecidos.
A cada exposição dos apresentadores a palavra "arte" saía disparada a cada dez segundos, e a palavra "loucura" a cada minuto. Bem, no caso do discurso de interrupção permanente do dono da galeria, era um ex aequo paritário. Tratava-se de um homem de ar alucinado... um artista. Não o era, mas pretendia o estatuto e assim adoptava o estereótipo do artista que eu julgava afastado já do imaginário público. Envergava-o. Numa pose ascético-patética, afastando com as costas da mão os seus fartos cabelos cor de prata, do alto do seu metro e sessenta e cinco, discursou uma mensagem de abnegação, de despojamento, que era o espírito com o qual abraçava a missão de explorar aquele espaço. Não lhe interessava, de todo, o lucro, porque o seu único e grandioso objectivo era o de congregar, além dos ilustres que se sentavam cercados pelas telas e pequenas esculturas, artistas de renome como os que estavam na mesa nobre e fazer acontecer... cultura.
Ele próprio os apresentou e enalteceu as suas virtudes como artistas... e loucos.
Não foi o único. Nem todos os que tomaram a palavra eram perfeitos idiotas. Um famoso colunista e um conhecido professor universitário mesmo assim acasalaram, de novo, perante nós, as palavras "arte" e "loucura".

Aquela sensação de me encontrar entre medievos... veio de novo.
Nenhum, felizmente, era crítico de arte, mas a moinha que me transportou para o século XIII nasceu do facto daqueles homens, num plano elevado, traduzirem a impressão que o vulgar cidadão possui do que o artista faz e que tipo de profissional ele é: um louco, indisciplinado, sem objectivos, alucinado, inconsequente e anti-social.
Nada podia ser mais falso e simultaneamente mais emblemático do atraso em que se encontra o estudo de muita coisa relacionada com o homem. Com um ênfase preocupante para o estudo e definição da inteligência em si.
O artista deve ser, de todos os profissionais, o que abraçou o maior desafio no mundo do trabalho. Refiro-me aos verdadeiros artistas, aqueles que buscam e desenvolvem o seu próprio percurso, os "originais"... ficando de fora desta reflexão os que exploram as fórmulas criadas por outros, como por exemplo aqueles que no século vinte e um ainda pintam quadros com uma linguagem impressionista (e têm mercado, pois só agora muitos começaram a gostar do impressionismo, que data do século dezanove).
Vou usar uma, pouco frequente por, aqui analogia:
Um engenheiro resolve problemas, como qualquer profissional. No caso da travessia dum rio, é-lhe fornecido o problema - atravessar o rio - e o seu trabalho é fornecer a solução - uma ponte que respeite todas as condicionantes agregadas, como prazos, custos, qualidade e outros.
No caso do artista, ele cria o problema, as condicionantes e a solução. Ou melhor, ele detecta o problema que ninguém vê e resolve-o. Cria os seus próprios rios, as suas próprias pontes, e as condicionantes inerentes a tudo isto.
E, neste processo, encontra-se inteiramente só.
Tomemos como exemplo, nos referidos impressionistas, Monet. Tendo-se apercebido que a sua contemporânea fotografia cumpria melhor a missão da arte até essa altura (problema...e não pequeno: dar um sentido à arte... à pintura ), descobriu novos caminhos ao começar a exploração da mistura de cores na tela e não na paleta segundo os princípios da emergente teoria científica da cor, saindo do atelier para os campos, para captar numa difícil impressão pessoal da luz. Impressão essa que transmitia à tela.
Este tipo de atitude profissional requer uma disciplina brutal. É o artista que estabelece o seu próprio horário de actividade, as suas metas, os seus limites, é ele que cria o seu próprio purgatório laboral... E tudo isto num nevoeiro de solidão. Encontra-se só na demanda dos seus objectivos pois só a obra acabada se explica, se resume e pode, só aí, ser alvo de análise.
Esta solidão condiciona, na maior parte das vezes, um vida afectiva nómada e insustentada. E não só a solidão. O factor que determina o tipo de raciocínio que um artista exerce, nem todos e todas o possuem e raro é o homem que não partilha os seus dias em conversa com a sua companhia. E ouvidos capazes de entender a loucura?
Mas afinal, o que é a loucura? Porque se considera o artista um ser bizarro? Muitos deles vendem a sua loucura mais cara que automóveis topo-de-gama, e alguns jactos... de vários lugares. Então... não são loucos, pois não?
Não. Não são. Possuem um tipo de inteligência que se encontra muito mal estudado...
Após milhares de anos de civilização, é que alguém muito timidamente apareceu a abordar o estudo da inteligência. O psicólogo inglês Howard Gardner, professor da escola de educação de Harvard e da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston, apresentou a sua Teoria da Inteligência, há apenas quinze anos: Para Gardner, existem cinco tipos de inteligência usados por nossa mente para enfrentar o mundo. A inteligência espacial (que envolve a capacidade de ler mapas e de encontrar a saída de um labirinto), a inteligência corporal cinestésica, a inteligência interpessoal e intrapessoal e a... inteligência artística. A inteligência, à falta de melhor, chamada de artística é a que se manifesta na criação e reflexão da arte. Eu chamar-lhe-ía sintética pois refere-se a uma reinterpretação e reconstrução da realidade apercebida a outros níveis, cognitivo e reflectivo.
Quem ganha a vida usando este tipo de inteligência, não poderá nunca chegar a casa e falar sobre o serviço. Muito poucos o perceberão. A solidão será sempre uma constante. Poderá ter sorte, se conseguir reunir dois factores frente a si: possuir uma capacidade de comunicação verbal tradutora do seu percurso e encontrar alguém sensível à mesma... duas agulhas num palheiro.
O artista tem de abraçar uma existência quase missionária, de sacrifício. E ao prosseguir os seus objectivos, o horário de trabalho será de vinte e quatro horas, sem férias. Não trabalha com os braços, ou com as mãos. É com a mente.
Todos partilhamos um imaginário de figuras de artistas sofridos, de existências dramáticas, aventureiras, incompreendidos... loucos. Não confundam os que, por uma questão de imagem usam o look à artista. Esses são os artífices das artes decorativas.
Os artistas autênticos não são loucos. São apenas seres que abraçaram uma profissão que os consome como a cera duma vela, porque o tipo de reflexão que para ela usam ainda não está estudado de forma a os acondicionar no resto de tudo.
São seres humanos que se sacrificam, para nós todos podermos ter emoções estéticas renovadas, uma geração após outra.
E são profissionais a sério.

FOTO: THE MAD HATTER’S TEA CUP DE MICHAEL GOODWARD. WEBLOG AQUI.
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