quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Trashin prashin, takun... taw! (trechen II)


Subo a parada: dois iates do Abramovich...

Vim do Ginásio, e, mesmo de encomenda, numa das aulas de Spinning, encontrava-se uma bifa.
Vive cá. Já por ali a tenho visto, desde há bastante tempo.
Como de costume, nós alunos, e o prof, um porreiraço, trocamos umas piadas enquanto a aula decorre e o chão por baixo de mim começa a parecer-se com um laguinho do Monet, ainda sem nenúfares...
Tudo bem até a bifa abrir a boca. Aí, o prof baixa o volume da música, assustando e fazendo saltar os peixinhos do laguinho que me cerca a bike, e com um "Wath?", começa ali uma interface internacional. A partir daí, a aula torna-se bilingue, como o textinho do cabeçalho deste blog:
Mais um minuto!...Just one more minut! Sem misericórdia!... No mercy! (a minha gargalhada assusta o tubarão que persegue os peixinhos, a barbatana que sobressai do laguinho faz uma viragem brusca).

E tudo por causa da bifa, que coitada, já respondia no seu melhor português para minimizar o embaraço alheio...

E não é caso único, lembrei-me de inúmeros do género, logo ali.
Existe por aqui uma reverência por tudo o que fala inglês, francês, alemão ou italiano.
E não só, Isso reflete-se no mercado de trabalho e nos negócios em geral. Um dos meus pares possui um nome estrangeiro: pronto, tem a vida feita, já há muito. O problema é que ele não é medíocre... é mesmo mau. Procura a simplicidade, vendendo-a como tal, mas encontra e oferece a pobreza... e o cliente, sem nenhum mecanismo de percepção capaz (porque quem passa os cheques neste país ainda não possui, na maior parte dos casos, uma cultura global que lhe permita fazer juízos de valor no âmbito do design)... papa com aquilo.
Outro caso, Um portuguesinho da Silva. Esse sim, um excelente profissional, com uma qualidade e capacidade de trabalho exemplares e um merecido lugar no mercado, que inteligentemente potenciou o seu nome duma forma criativa. Mas trata-se duma excepção. E quem o procura normalmente é o empresariado esclarecido, que não papa gato por lebre...

O que prepondera é a nossa subserviência. Lembram-se da vergonhosa frase... "para inglês ver"?

Não tenho razão?
Façam a seguinte experiência: Durante um dia deixem de frequentar os mesmos sítios e vão a outros.
Nos mesmos, falem sempre em inglês com quem vos atende. Não faz mal possuírem tez morena. Respondam que são americanos, se vos questionarem sobre a nacionalidade.
Cuidados a ter: Escolham um dos dois sotaques cosmopolitas: Manhattan ou Brooklin (mais castiço) e tragam uma foto do Bin Laden na carteira*.
Não vai ser difícil. Vocês conseguem. Se há gente que mantém relações duplas e triplas, se existem indivíduas que convencem toda a gente na empresa onde trabalham que ainda vivem com aquele indivíduo importante (mas que acabou com elas há dois anos) para manter o status...enfim, fingir-se de americano durante um dia não vai ser, de todo, difícil.

Vão ver que vos tratam, durante um dia inteirinho, como gente da realeza. Contem-me depois.



Uma coisa é sermos hospitaleiros, o que é bom.
Outra é abrirmos a boca e a nossa língua transformar-se num tapete vermelho.


*A foto do Bin Laden é para o caso de aparecer um mujahedeen que vos confronte. Aí mostram-lhe a foto e juram a pés juntos que, embora americanos, também são combatentes da Jihad...

12 comentários:

mjf disse...

Olá!
Até concordo contigo...
Vergonha...muita vergonha, mas é a realidade...

beijos

Rocket disse...

Mjf

Realidade a ser mudada. E para isso temos que começar, nós mesmos, a ganhar o nosso lugar no mundo, e não é só nos relvados desportivos e nos palcos...
Tecnologia, ciência, investigação... temos poucos meios, mas também não eram poucos os dos irmãos Wright?...faziam bicicletas...

bjs

aparece sempre

Anónimo disse...

Um outro desafio:
Falar em Português, mas apresentares-te SEMPRE com os teus 250 apelidos e com sotaque à "tio". Vais ver que é igualmente divertido e que te vão tratar com um cuidado acrescido.

Beijo

Unknown disse...

há q mudar mentalidades. enquanto isso, ...
1 abraço.

Rocket disse...

Xunana

Sem dúvida... E isso reflete-se tb no mercado e nos negócios... Há nomes que valem ouro neste país, mesmo que os detentores não valham um caracol..

estafermococus
É verdade, mas para isso: mudar prestações e comportamentos. As realidades são feitas de provas dadas, senão são virtuais... como a nossa economia...

um abraço e aparece sempre

Rocket disse...

Xunana

Beiiiiijo

Magucha disse...

Eu já fiz a experiência. Montes de vezes, quando era mais miúda. Divertia-me imenso com os meus amigos a passar por inglesa de férias, a falar português com um sotaque carregadíssimo e a falhar todos os artigos- Era fenomenal ver as reacções das pessoas!

Tens muita razão no que dizes. Ainda subsiste a mentalidade do "para inglês ver" e "o que vem de fora é que é bom". Felizmente começa a mudar, mas demasiado lentamente.

Então a cena de alguém estrangeiro tentar falar português, e ter toda a gente a tentar falar com ele na sua língua nativa, é completamente ridícula. Especialmente se não se dominar bem a língua. Qual é a piada de se arranhar portunhol ou inglês do Zezé Camarinha, quando a outra pessoa quer é aprender português? É subserviente, invalida os esforços do outro em querer dominar mais uma língua, e não ajuda em nada a difusão e defesa da língua portuguesa. Querem falar estrangeiro, vão para outro país (pode ser de férias...)! Mas depois não se espantem que ninguém os entenda...

Rocket disse...

Magucha
É não é?
Mais: normalmente chamam arrogantes aos alemães, por exemplo.
Perdoem-me, mas têm toda a razão em sê-lo... Tive uma assistente alemã, quando vinha de lá de férias respondia-me, à minha pergunta de quão boas tinham sido, que sim, ter contactado com gente culta, civilizada e educada, e ter tido conversas interessantes, sérias tinha sido bom, revigorante.
Tive uma amiga canadiana, as suas impressões disto, principalmente as primeiras, eram de
morrer de vergonha...só.

Magucha disse...

Rocket,

Tenho um amigo americano que. Quando finalmente veio a Portugal visitar-me, passou por nós um bando de turistas americanos típicos - barulhentos, arrogantes, e a achar que é tudo igualzinho ou pior ao que têm em casa. Ele confessou ter imensa vergonha de dizer que é do mesmo país que aquele bando!

Qua assistente tão... [inserir insulto apropriado aqui]. Ela nunca tirava a cabeça do próprio rabo quando estava em Portugal? Há gente culta, educada, civilizada e com conversas interessantes em Portugal. Especialmente se se for outra pessoa culta, educada, civilizada e com conversas interessantes, o que não devia ser o caso.

Rocket disse...

Magucha
Isto evoluiu muito, em muito pouco tempo, graças aos deuses.
Foi minha assistente em finais de 90, e de facto, com os exemplos que ela referia só podia dar-lhe razão...Admitia-a porque ela embora tivesse acabado o curso havia pouco tempo, tinha uma preparação quer teórica quer técnica assombrosa, comparada com os nosso padrões...
A minha amiga canadiana veio para cá há mais de 15 anos, e muitas das coias que a arrepiavam deixaram de acontecer...felizmente.
Quanto aos americanos, pura e simplesmente não têm razão cultural alguma para serem arrogantes. São-no pelas piores razões e compreendo o embaraço do teu amigo...

Maria Manuela disse...

May I ????

Lol

bjo

Rocket disse...

M&M

LLLOOOLLL... é tudo teu!
bjs