Pousou a foto, de costas, na mesa ao lado da cama de tecidos de ondas revoltas que nada tinham que ver com o mar liso que me entrava pela varanda enquanto a penetrava depois dela abrir, uma vez mais, os braços e o corpo.
O mundo encontrava-se calmo, como aquele horizonte azul. As pessoas navegavam nele como os longíquos barcos que se deslocavam imóveis.
Era o verão de oitenta e dois, mas na altura eu não pensava nisso.
Era apenas um puto de dezanove anos à descoberta de tudo.
Dias antes, pela mesma hora, dentro dum carro no poeirento terreiro que servia de estacionamento, com a Bebé...
O calor era insuportável em Vilamoura, às quatro da tarde. Contudo, as janelas mantiveram-se fechadas até derretermos os dois.
Encharcado, apareci a seguir à frente dos meus amigos, na marina. Vermelhos, explodiam em adrenalina. Respiravam às golfadas enchendo muito o peito. Onde estavas tu? Precisámos de ti. Um gajo de bicicleta foi contra mim, e deu caldeirada, ali debaixo das arcadas. Eram mais que nós.
O André já não me falava há dias. Era com ele que tinha vindo acampar. Só fiquei uma noite na tenda, a primeira. Sentiu-se sem companhia e chamava-me devasso... coisas dessas. Mas abriu a boca para comentar a minha resposta com algo parecido com é sempre a mesma merda enquanto via os barcos, de olhos semicerrados... Só eu e o Fernando é que usávamos óculos escuros.
Eu, sobretudo, vítima da fotofobia de quem apenas usava a praia e a piscina para dormir, que as noites não eram para isso.
Essas começavam como meu regresso dos lençóis. Se não tinha jantado, lá repetíamos o nosso golpe, quase sempre nos mesmos sítios, atentos à mudança de turnos: depois de comer, sair, descontraidamente com os mesmos trocos que tínhamos no bolso. Na altura não havia multibanco...
A seguir, a discoteca mais chunga de Vilamoura. Qual Summertime, qual Kiss... mal chegávamos a esses sítios queríamos logo voltar para a Zebra. A savana era connosco... divertíamo-nos e cantávamos discalhada como esta...
À saída, as cadeiras e mesas de plástico dos aldeamentos... tudo para a piscina. Isso e as outras pequenas maldades...
De resto...como era possível a vertigem de envolvimentos em simultâneo numa noite de verão, com dezanove anos... como é o sexo tão belo, quando os lençóis que nos cobrem são os farrapos macios do mar cálido da madrugada de uma praia vazia... e o que se ouve é o tapete de água a alisar a areia...
E os cheiros... e a pele...as penugens...os cabelos...os sabores...os sussurros...os olhares. Todas poucos anos mais velhas que eu, o suposto aprendiz...
Um dia tentei fazer as pazes com o André. Eu iria dormir ao parque de campismo. Não lhe contei os pormenores: o facto da Veronique e da Françoise virem comigo para uma tenda que compraram só para aquela noite. Nunca tinham acampado e era uma variação engraçada ao apartamento.
O André continuou amuado.
A Françoise era casada com um grego, dono de um restaurante em Paris. Ela era chefe de compras da Fnac Paris e encheu-me, por correio, as poucas estantes que eu tinha com livros do Moebius. Ainda os tenho. A sua paixão distante durou meses.
Nesse verão nunca estive intimamente com nenhuma bifa. Francesas, belgas, portuguesas, suíças, suecas, portuguesas, norueguesas, espanholas, portuguesas, holandesas...mas... bifas, só as que via muito brancas, ao longe. Não me agradava o tom de pele, o sotaque rasca e deixava-as para o zezé camarinha.
Os amigos dessa altura mantiveram-se para a vida.
Um deles, na foto, já não se encontra entre nós, com muita mágoa nossa.
O mundo encontrava-se calmo, como aquele horizonte azul. As pessoas navegavam nele como os longíquos barcos que se deslocavam imóveis.
Era o verão de oitenta e dois, mas na altura eu não pensava nisso.
Era apenas um puto de dezanove anos à descoberta de tudo.
Dias antes, pela mesma hora, dentro dum carro no poeirento terreiro que servia de estacionamento, com a Bebé...
O calor era insuportável em Vilamoura, às quatro da tarde. Contudo, as janelas mantiveram-se fechadas até derretermos os dois.
Encharcado, apareci a seguir à frente dos meus amigos, na marina. Vermelhos, explodiam em adrenalina. Respiravam às golfadas enchendo muito o peito. Onde estavas tu? Precisámos de ti. Um gajo de bicicleta foi contra mim, e deu caldeirada, ali debaixo das arcadas. Eram mais que nós.
O André já não me falava há dias. Era com ele que tinha vindo acampar. Só fiquei uma noite na tenda, a primeira. Sentiu-se sem companhia e chamava-me devasso... coisas dessas. Mas abriu a boca para comentar a minha resposta com algo parecido com é sempre a mesma merda enquanto via os barcos, de olhos semicerrados... Só eu e o Fernando é que usávamos óculos escuros.
Eu, sobretudo, vítima da fotofobia de quem apenas usava a praia e a piscina para dormir, que as noites não eram para isso.
Essas começavam como meu regresso dos lençóis. Se não tinha jantado, lá repetíamos o nosso golpe, quase sempre nos mesmos sítios, atentos à mudança de turnos: depois de comer, sair, descontraidamente com os mesmos trocos que tínhamos no bolso. Na altura não havia multibanco...
A seguir, a discoteca mais chunga de Vilamoura. Qual Summertime, qual Kiss... mal chegávamos a esses sítios queríamos logo voltar para a Zebra. A savana era connosco... divertíamo-nos e cantávamos discalhada como esta...
À saída, as cadeiras e mesas de plástico dos aldeamentos... tudo para a piscina. Isso e as outras pequenas maldades...
De resto...como era possível a vertigem de envolvimentos em simultâneo numa noite de verão, com dezanove anos... como é o sexo tão belo, quando os lençóis que nos cobrem são os farrapos macios do mar cálido da madrugada de uma praia vazia... e o que se ouve é o tapete de água a alisar a areia...
E os cheiros... e a pele...as penugens...os cabelos...os sabores...os sussurros...os olhares. Todas poucos anos mais velhas que eu, o suposto aprendiz...
Um dia tentei fazer as pazes com o André. Eu iria dormir ao parque de campismo. Não lhe contei os pormenores: o facto da Veronique e da Françoise virem comigo para uma tenda que compraram só para aquela noite. Nunca tinham acampado e era uma variação engraçada ao apartamento.
O André continuou amuado.
A Françoise era casada com um grego, dono de um restaurante em Paris. Ela era chefe de compras da Fnac Paris e encheu-me, por correio, as poucas estantes que eu tinha com livros do Moebius. Ainda os tenho. A sua paixão distante durou meses.
Nesse verão nunca estive intimamente com nenhuma bifa. Francesas, belgas, portuguesas, suíças, suecas, portuguesas, norueguesas, espanholas, portuguesas, holandesas...mas... bifas, só as que via muito brancas, ao longe. Não me agradava o tom de pele, o sotaque rasca e deixava-as para o zezé camarinha.
Os amigos dessa altura mantiveram-se para a vida.
Um deles, na foto, já não se encontra entre nós, com muita mágoa nossa.
47 comentários:
Por pouco não nos devemos ter cruzado por lá!
Já m ri com os trajes.
Bestial! São sempre excelentes este tipo de recordações, porque foram só ontem não é?
Eu pelo menos, não notei melancolia ou nostalgia, mas posso estar enganada.
Vi muita saudade, lembranças boas e que hoje podia ser tudo assim outra vez, sem o amigo que falta e sem a mesma energia de antes, mas com a mesma vontade e outras descobertas.
Próprias da idade, que também estou a gostar.
gi
ui...eu dessas coisas tenho um certo receio. quando alguém me pergunta: "lembras-te de mim?"...credo!
bjinhos
patti
sem a mesma energia de antes?...reli o texto de AGORA e não encontrei isso...LOL
na verdade na altura não conseguia correr 300m, agora corro até fátima se for preciso...
não estás enganada. como escrevi antes: esses tempos já não voltam...MAS TAMBÉM NINGUÉM NOS TIRA...ficam cá.
e vivo os de agora em plenitude.
do que tenho mesmo saudades é daqueles óculos...eh eh
Também eu tenho belíssimas recordações desses tempos, não sei se concretamente de 82, talvez mais de 83...
O importante mesmo é olhar para trás e sentir que os dias bem vividos ainda nos fazem companhia.
O importante mesmo é sentir que no presente ainda há dias fantásticos e esperar que daqui a 20 anos consigamos recordá-los com a mesma lucidez...
Já gargalhei a valer com os modelos da época!
bjs
Deixa-me adivinhar, tu és o pintas com óculos escuros...
Pois, a Zebra não é do meu tempo, mas o Kiss e o Summertime são. E que belas noites lá passei, sempre com uma pequena paragem antes no Choque Frontal (sugestivo até no nome)!
Missa hoje?
Beijão
Como a vida era boa nessa altura..aiii fiquei nostálgica..
Apesar se ser uma grande verdade..os momentos passados ninguém nos tira e é bom recordá-los.;)
Beijos presentes
(é para adivinhar-mos qual deles és?.)Eh eh
rafeiro perfumado
andas a treinar com a consultora espiritual... que mais fazes com ela... origami?
xunana
teu tempo? isso é termo proibido nesta tasca... o teu tempo é agora! missa logo à tarde, claro...ainda dá para um cafézinho que vou cedo...
beiiiiijo
vitinha
pois é. na altura não sabia o que eram impostos... era só curtir!
adivinhar? ui...deve ser difícil... têm todos, quase, cara de bons rapazes... logo, deve ser o ...quase.
beijos espacio-temporais, ternurinha
lenib
tu ainda tens memória?!?
tens que pensar numa urgente recarga...
pois é, as boas recordações fazem-nos companhia, e como é o caso, quando encontro os protagonistas, é gargalhada generosa, a que se segue...
e o presente é o imbatível presente. por isso tem nome de prenda, de dádiva, de oferta...
bjs
Lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Não sei qual "prefiro", a foto é verdadeiramente divinal. já agora podias dizer qual eras tu...
Quanto aos amigos que partiram, todos temos desses... é a vida!
jasmimdomeuquintal
não é difícil adivinhar, procura alguém com ar de pilha-galinhas... eh eh
bijnhos
Gosto de te ler assim.
Com uma contrastante e fotográfica suavidade, salpicada por aquilo que te é próprio... que grande primeiro parágrafo!
Ler-te no teu melhor, maninho. Beijinhos.
loool eu aposto no blusa amarela..loooool
É com tanta holandesa..françesa..portuguesa..tu tinhas de correr bem.;)
Beijos mauzão
mlee
são recordações longínquas, embora olhando para a foto, de novo os ruídos do verão de oitenta e dois se façam ouvir... como aquelas gravações de sons da floresta.
era um post que eu tinha agendado, mas que não foi fácil escrever por eu ter tantas memórias por onde escolher. tive que recorrer ao que de melhor possuo em síntese...
a minha escrita registada em papel possui estes contornos... é pena o mercado não ser constituído por pessoas como tu...
bjinhos maninha
My mother used to say...be carefull with those sunny glass boys!!
Quanto à memória...nem sei que te diga!!!
(acho que vou comprar pilhas...)
vitinha
LOL... o segredo de nunca ter de fugir é uma trindade: ou não fazer, ou fazer e não ser descoberto...ou apenas ser magnífico...hum...vitinha, boa! ahahahaha
bjinhos boazona...
lenib
a tua mama tratava-te por boy? andavas disfarçada de boy george? hum... deve ser mais uma partida dessa memória... refill..refill...
beijos duracell
Um Verão escaldante e poliglota meu caro! Ora bem... Verão de 82 eu tinha 3 anos e ainda chupava em chucha de borracha e pouco mais me lembro.
beijocas
blueminerva
deixa estar. já me apanhaste... o de 08 tb serve...
a praia é boa por aí?
bjocas larés
As boas recordações fazem-nos sempre sorrir.
O tempo não volta atrás, mas desse tempo ficaram-te amizades para a vida.
E agora vejo que o menino era fresquinho, ai era, :-)))))
A foto está o máximo.
Beijinho e continua a recodar os bons momentos como esse verão de 82, com clareza.
D. Antónia Ferreirinha
estas boas recordações não me fazem só sorrir. fazem-me rir à gargalhada quando me reúno com as amizades que ficaram para a vida, os pais dos meus sobrinhos...
era fresquinho, eu? ...ERA? : )
beijinhos
gostei desse recordar....gostado
belas pernas.....mas gostei dos jeans,,,,,tara minha ehehehe
jocas maradas de 2008
su
jeans com aquele corte para homem, agora, é mentira... é uma pena...
jocas maradíssimas
Hmmm! Pois eu acho que és o que está de oculos escuros e de calças: "Eu, sobretudo, vítima da fotofobia de quem apenas usava a praia e a piscina para dormir, que as noites não eram para isso."
Abraço
plexu
parabéns. o rafeiro já tinha topado (um rafeiro reconhece sempre os seus iguais...) mas a teu atento raciocínio dedutivo (ri-te, vá...) descobriu o wally...
podes ir buscar o elefante amarelo de peluche, que está ali pendurado, para o rucas destruir...
abraço
Atenção:
Eu antes de ler os comentários anteriores já tinha apostado que eras o das calças de ganga!
Porquê??
Porque já eras o maior! ehehehe
Rocket, estas são as melhores lembranças...
Agradeço-te por me teres transportado para uns anos atrás! ;)
Abração!
Nessa altura, a entrada para a Marina fazia-se por uma "auto-estrada" de gravilha. Repentinamente senti a Solex da Fany demasiado leve. Olhei para trás e vejo-a qual arado a lavrar o caminho com a testa.
À noite, no terraço da Zebra, ofereci-lhe uma bifana quentinha e uma coca-cola. No meio dos "ais" e "úis", lá fizemos as pazes. Se aquele namoro terminasse, lá se nos acabavam as entradas grátis na piscina e os hamburgers desviados da cozinha do BAR.O sentimento de culpa pelo acidente fez de mim o rapazinho mais fiel daquele verão(pelo menos durante o dia...a cinderela à meia noite tinha de recolher a casa!). Vocês, entretidíssimos com as francesas, prestaram-me um salto de tranpolim para a intimidade com ela: " os meus amigos andam aí em grande, e eu o que conto? que damos as mãos e beijinhos?".
As bifas tb não compreendiam. De dia, parecia que as não conhecia, à noite era todo calorzinho. Pudera, a dose por pessoa constituía-se de garrafa e meia de tintol lagoa ao jantar, seguido de duas tequilhas BUM, BUM (copos d`água, meios de tequilha, meios de seven up), duas a três canecas grandes de cerveja na Marina, e estávamos prontos para o ZEBRIU!Nunca me lembro de rir tanto a ver o Telejornal!
Acho que foi por isso, que certa vez um de nós, todo enfarpelado para a night, caiu na piscina dos putos! By the way, agradeço a homenagem que fazes ao Miguel.
Enfim, memórias felizes de tempos loucos e inocentes. Passávamos no casino com o fim de rapar uns prémios que bebíamos de um trago logo de seguida!
Sou suspeito amigo Rocket, mas o registo aqui anda a elevar-se a cada dia. Vir cá diariamente começa a ter o seu quê de religioso, de purificador.
Reparei agora que se me acabou o tabaco e que tenho impostos para pagar. Vou-me deitar. Um abraço Grande.
tá-se bem
somos todos grandes quando merecemos os amigos que temos... ainda bem que gostaste...temos que inventar uma máquina do tempo para dar umas escapadinhas... como quem não quer a coisa...
um grande abraço
consuetudo
ui... máquina do tempo... era a pdl...
muita coisa podia, mesmo inocente, ainda aqui ser escrita...( aquela vez que passou o benvindo mr. chance, com toda a gente a rebolar à gargalhada, a inundação no apartamento das irish... ) aquelas férias davam livros... e não era só ali... havia prolongamento em cascais... e do bom... por muitos anos...
abração, amigo
Este post está fantástico. A amizade assim é linda! Daquela para toda a vida! E descreves-te isso muito bem! E a foto está demais
kitty
não é só o post. temos aqui uma excelente fatia de comentários...
de facto, a amizade é o tal sal...
bjinhos
Se a memória não me falha esse discoteca ficava na Aldeia do Mar em Vilamoura.
Passei muitas noites no Summertime e outra que acabou por abrir em 84 85, salvo erro o Splash, também em Montechoro.
Os melhores anos da minha vida, sem margem para dúvida.
miguelpontocom
não te falha, não... ficava lá mesmo... também ia a summertime e ao kiss, mas a zebra ficava mesmo ali à mão de semear...
...e o pessoal passava a vida na aldeia do mar...
não digo que tenham sido os melhores anos da minha vida, porque a partir dos trinta e cinco (adivinha porquê...) foi a pdl... mas que foram muito, muito especiais... lá isso foram
Um gajo com tão bom gosto e, depois, chocam-nos ao deixar aqui uma foto dos gajos, em vez de fotos da Veronique e da Françoise...
Abraço
sorriosos
até tinha fotos melhores, mas nos meandros de dez anos de casamento elas desapareceram...
agora só mesmo a oralidade, como nos povos primitivos
abração
se tu soubesses onde andava eu em agosto de 82!! LOOOLLL
helluah
claro que sei...filha
E qual deles és tu? ;)
alfabeta
se leres os comentários percebes, se fores perspicaz...não precisas ler os comentários...LOL
Verão de 82, Vilamoura, essa foto...
Parece que estou a conhecer...
...
Não me digas que foste tu que me destruiste o castelo de areia?!?
Grunf!!!
Agora a sério, acho que nessa altura não ia a Vilamoura... E Algarve, NUNCA no Verão...
Jinhos
maguinha
não era assim distraído e deitado na arei não destruía nada...
não vás no inverno...
beijinhos maguinhos
Já fui no Inverno algumas vezes, e foi giro. Hm. Se é que ir na passagem de ano com um monte de amigos conta como ir no Inverno... =)
Jinhos
maguinha
com amigos pode sir passar uns dias a quelquer lado que te divertes sempre...
bjinhos maguinhos
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