
Barak, sem parar de aplaudir o fim da apoteose, dirige-se, eufórico, ao seu director de campanha, David Plouffe.
— David, é o
glorioso começo... o
glorioso arranque do
glorioso começo.
— Barak, será até... "il grande finale" se cativarmos o resto da ala direita do partido...
— Sim...e?
— E... Tenho uma na manga. Infalível.
Barak sorri. Anda cansado, "infalível" acelera-lhe o batimento cardíaco... e o das mãos... uma na outra. Às vezes julga que as palmas estão a calejar, de tanto se aplaudir por essa América fora...mas agora não tem tempo para pensar nisso...
— Qual é?...Coreia?— Grita-lhe a pergunta numa discreta careta, através do
bruáá da multidão. David responde-lhe com um indisfarçável olhar diabólico.
— O Irão.
E é assim...
Já não existe Guerra Fria. O comunismo morreu. Com ele foi-se o romantismo na política. Não haverá mais "Ches" no Ocidente.
Não que as raízes do conflito tenham acabado. Muito pelo contrário. O que provávelmente aí virá será motivado pelo ódio mais profundo, o ódio religioso. É por amor a Deus que se odeia mais. Viu-se isso aqui bem perto, na ex-Jugoslávia. Ver-se-á pior...
Mas não quero escrever sobre isto... hoje.
Interessa-me olhar, à minha maneira, para o que a política se tornou, ou voltou a ser, depois do socialismo: um mero e barato jogo, de interesses, rasca.
Já não estávamos habituados a nada disto... esquerda era esquerda e direita era direita. Sabíamos distinguir isso na postura, no discurso, na filosofia de quem andava por aí nessas lides. Agora não, a política voltou a ser o espectáculo de variedades dos ódios sorridentes, entredentes, das comadres dos partidos. Como o era, antes de Marx, Engels... da Comuna de Paris.
Mas como espectáculo é fraco, principalmente nas variedades em si.
Voltemos muito trás...O peso da religião sempre foi algo determinante até à Revolução Francesa. A Monarquia era justificada por Deus. A primeira revolução política teve assim um cunho religioso, com Lutero e Calvino. Quase na mesma altura, e em consequência, a República foi ressuscitada, no Norte da Europa, para se finar pouco depois...
...Ui que me estico... bem... Isto é um
blog, a malta quer ir rir-se noutros, por isso tem que ser em versão resumida, a atroplelar coisas, como Cromwell, etc...
Isto tudo para afirmar que a política antes da revolução francesa era uma seca, e com o fim da mesma, voltou a sê-lo até à revolução industrial e ao senhor judeu de barbas grandes. Karl Marx.
O papão.
Ainda bem que existiu.
Em matéria de tiro curvo, costumo apontar para o céu, se quero atingir o telhado. Marx apontou para o céu. E lá se atingiu o telhado.
Sem Marx, não existiria social-democracia, classe média, férias, lazer, consumo, liberdade, política social, não estaria aqui a teclar convosco após ter vindo do ginásio e ter passado no Lidl, estaria a sair duma fábrica, ou ainda lá...ou talvez não, com a minha idade já estaria morto por uma sociedade cuja esperança de vida seria tão curta como um pavio, como no tempo de Dickens... sem contar com o prato do jantar...só batatas e já gozas... Se anda para aí tudo a curtir, após sete ou oito horas de trabalho diárias, bem pode agradecer ao barbudo. Quando se referirem aos comunas, lembrem-se disso. O homem não teve culpa do Estaline e do Mao...
Eles até não eram assim tão maus...estou a brincar. Eram péssimos.
Mas ser mau é apenas uma questão de chegar ao poder e ficar lá durante muito tempo...depois não se quer outra coisa, e até se mata por isso. E para matar nem sequer é necessário lá chegar, basta tomar-lhe o cheiro.
Barak Obama sempre me pareceu bom demais. Um americano com sangue negro, que iria passar a borracha final sobre os traumas da escravatura numa sociedade jovem, como o é a americana.
Um democrata. Simpático, humanista...um gajo porreiro.
O diabo...
O diabo é como Marx, mal-amado.
Porquê? Por acaso fez mal a alguém? Quem se lembra? Eu não...
Anjos e Arcanjos, na Biblía destruíam cidades. Matavam gente. Fulminavam. E andavam sempre de espada em punho. Os pobres dos diabos andavam com um tridentezito, nos quadros do Hieronymus Bosch, e ficaram depois gravados como tal na nossa memória, a apascentar almas más no inferno...uns criaditos de Deus que se aborrecia com eles porque, para se divertirem, vinham para aqui fumar um cigarrito nos intervalos e chatear a malta com propostas indecorosas, como aqueles putos que nos abordam na baixa que, mal educados, já tiveram para levar no focinho mais que uma vez...
Mas o diabo não é mal-educado. É um cavalheiro que aprendeu com os melhores, lá na escola de anjos. É simpático, polido, atencioso, transpira charme. Cativa.
Como Barak Obama.
Estive caladinho este tempo todo em relação ao futuro presidente dos EUA. Não me parece conveniente avançar com opiniões sem fundamento. Mas agora, depois de o ter visto a comportar-se como uma puta rasca a mostrar as mamas a velhos babosos... É que isto do vale-tudo, só na guerra.
Uma coisa é ver uma amiga a ser aborrecida por um mastunço qualquer aí na noite e eu chegar lá, varrer-lhe os tornozelos com a perna e depois partir-lhe três dentes com o calcanhar, pirando-me em seguida com a amiga pelo braço, discretamente, sem sequer sujar as mãos... e outra é fazer como o Obama, começar aos gritos de "faço-te a folha!" para impressionar as meninas e mandar mais umas bocas, a capitalizar a coisa, antes que os seguranças cheguem para acabar a festa.
Barak, Presidente, se se justificasse, mandava os Marines passar a fronteira depois dum bombardeamento maciço, e de seguida lá começava a guerrazita que me iria tirar o sono... mas?... antes de lá chegar? É a sede, pornográfica, do poder.
E é a isto que se resume a política, hoje em dia. Basta olhar para o lado. Ou melhor, para baixo. Aqui neste país.
Onde estão os políticos? Sim, os verdadeiros! Onde está um Sá Carneiro, um Mário Soares, um Álvaro Cunhal?...Onde se encontram as grandes causas? Os grandes debates? As grandes paixões? As barricadas?...
Vejo os "políticos" de hoje. Varriam o chão no tempo do Sá Carneiro e dos outros. Faço questão de, mal ouvindo um nome, esquecer-me do mesmo em seguida... tenho vergonha desta gente. Vou votar, porque a passeata atá ao Palácio Galveias é agradável...mas nunca preencho o boletim de voto.
Há uns anos atrás, houve um que quase me convencia, mas foi convidado para um cargo teóricamente inferior ao de primeiro-ministro de um país soberano e aceitou-o, sem hesitar. Na altura imaginei o Tony Blair a ser convidado para o mesmo e a perder a compostura, com a afronta...
É assim tão mau, ser primeiro ministro deste país? Tão rasca...tão bera?
É.