Boa noite. Hoje às tantas horas, em tal sítio, aconteceu tal desgraça.
Antes disso, o senhor que apareceu no ecrã trocou umas piadas com os colegas depois de passar pela maquilhagem onde o cobriram com uma camada da gravidade com a qual abriu o jornal televisivo ao denunciar a desgraça. Seguiu-se a descrição de outra, transmitida pela colega do lado em linguagem televisiva, que é uma forma de comunicação com quinze anos no nosso país e que se traduz em linguagem jornalística em formato comercial.
Desde que o jornalismo se transformou num negócio passou a rémora e a publicidade a tubarão. Dantes era o contrário. Lembro-me até, de na escola, aprender que a linguagem jornalística primava pela objectividade, o que é algo que não se ajusta ao que observamos.
E as notícias? Caramba! Parece que nunca o mundo, por nunca ter visto tanta desgraça, também não a teve...
Lembro-me dum programa do Howard Stern em que ele entrevistava uma actriz porno. Perguntou-lhe se havia algo que a tinha marcado, tipo... sexo durante a infância. Ela retorquiu que sim, tinha-o tido, sem penetração, mas que tinha achado graça e que não tinha sido aquilo que a empurrou para aquela carreira. Sim tinha achado graça, com uma idade diminuta, e depois perguntou: qual o espanto? O sexo não é bom?
Lembro-me da minha primeira experiência sexual. Obrigavam-me a dormir a sesta e era sempre uma criada, adolescente, que me "sossegava", para eu dormir. Uma delas resolveu manipular o meu sexo embora eu apenas tivesse seis anos... Não, não fiquei traumatizado, achei graça na altura. Não percebia era porque é que ela não me deixava fazer o mesmo.
Um dia tramei-a: enfiei a mão rápidamente e senti o equivalente a palha de aço. Fiquei confuso, mas não traumatizado...
Pedofilia, inventaram o termo nos telejornais. Sempre houve e sempre haverá, a diferença é que alguém agora ganha dinheiro quando utiliza a palavra, porque ela vende...
Inventam termos para cada tipo de desgraça, carjacking, bullying etc. Parece um manual de Marketing.
Hoje escrevi, a pedido, um editorial. Também sou jornalista, agora. Escrevi no feminino porque a directora é mulher:
"É tão bom ouvir boas notícias!
Eu pelo menos fico satisfeita por saber que a realidade de todos os dias não se resume a tudo o que de mau e desagradável abre os noticiários...
Gosto, por exemplo, de saber que uma das maiores empresas a nível mundial num determinado âmbito, afinal é nossa e nascida dentro da tradição de “uma casa portuguesa” ...
E que também temos Salões Automóveis onde, toda a gente pode conduzir um F1 virtual a partir de um simulador...
E que foi lançada uma nova Linha para o Lar inspirada em girassóis porque “...o girassol lembra a primavera, o sol, a vida.”...
E que existem espantosas calculadoras que funcionam a água!
E, melhor que descobrir, melhor que saber tudo isto, é dar a conhecê-lo. É publicá-lo.
É assim, com esta enorme satisfação, que apresentamos o primeiro número do... bla bla bla..."
A desgraça vende.
O problema é o efeito que ela tem na sociedade, deprimindo-nos cada vez mais.
Pois.
Não é só a nossa vida difícil. É a luz ao fundo do túnel que os media teimam em distanciar, para encher mais os bolsos na guerra de audiências.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
10 comentários:
Obrigada pela sua visita.
Sinceramente vejo e ouço o mínmo de notícias quer na TV ou rádio, porque com o número desmesurado de desgraças que porfiam em nos atirar para cima, quase quase nos estragam o dia a dia. Portanto, prefiro reflectir e sentir a vida dentro de um Mundo que tento seja melhor.
um abraço
TD
Teresa
Agradeço eu. Existem correntes filosóficas que defendem o evitar da agressão que descrevo...
Abraço
Parabéns, pelo sucesso conseguido!
O único mal da sociedade é estarmos a ficar insensíveis, mostrar espanto e horror e nada fazer pra alterar o rumo que esta esta a levar!
Fica nas nossas mãos mudar algo. Pra o futuro!
Bj G BB
afrika
O sucesso tem inspiração...
Eu evito pactuar com o circo de feras que é a nossa comunicaçõa social. Vejamos o caso Maddie: Quantas crianças não foram raptadas, desapareceram nos últimos anos? E até funciona como os terramotos, com réplicas, como a malograda menina espanhola...
Milhares de casos aconteceram como estes dois. Onde estava a imprensa?
Bj E BB
vamos lá por partes: a culpa é dos media, em grande parte talvez!Lembro-me dos telejornais terem meia hora e falarem do que era verdadeiramente importante - informavam simplesmente e as pessoas sabiam o que se passava no mundo.
Aos poucos as notícias foram transformando-se em folhetins e as pessoas continuaram a consumir, se calhar até em maior número. Está errado? Certamente que sim mas continuamos com o problema de dar ao povo o que o povo quer...a qualidade infelizmente continua a não ser premiada, mas será só nos media? não estará a nossa sociedade suficientemente adormecida para apenas consumir o que lhe oferecem? Afinal para a maioria das pessoas pensar cansa?
Desculpa o tempo de antena que te roubei, mas às vezes as verdades são só meias verdades...
bom fimd e semana
beijinhos
carla
Tens razão, inevitávelmente, em tudo. Há uma parte do teu discurso à qual sou particularmente sensível: Pensar cansa.
É verdade. Felizmente que já não se fala do "Homem" como nos anos 60-70, em termos filosóficos como um ser racional capaz de grandes feitos...
Isso foi ao longo da história só para alguns...a maioria é medíocre e cultiva a mediocridade, por vezes defendendo-a com unhas e dentes em relação á excelência, uma ameaça em si...
brigado e beijinhos
bfs
Ana disse...
Estou aqui a pensar que o meu filho me chateia a cabecinha por eu nao ouvir e ler as noticias...
Olha é o mesmo com a minha caixa do correio...meti là um autocolante "Publicidade nao por favor!"e jà foi arrancado!Toma e cala-te!
Beijinhos
Ana
Existem notícias e notícias...
bijinhos
Todos se queixam muito e todos fazem muito pouco para que algo mude. Há sempre um começo...e não vale dizerem que não ouvem as coisas sem interese...
Abraço
anónimo
Isto é um blog. Não uma cave de conspiradores...mas posso ceder a mesa da minha sala, se parecer malta decidida a mudar eta meda...
Falar nas coisas, de uma forma interessante, pode ser pelo menos o calçar dos sapatos para a longa caminhada que anseias... e eu.
Enviar um comentário